Título: Negociações despertam interesse da Alemanha
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2007, Brasil, p. A3

Nos últimos dois anos e meio, a Alemanha evitou discutir com o Brasil um acordo de cooperação na produção de biocombustíveis (etanol e diesel). Mas o que o presidente alemão, Horst Köhler, presenciou durante sua visita recente ao Brasil parece estar mudando a posição de Berlim.

A visita do presidente alemão, no começo deste mês, passou quase despercebida, porque sua presença coincidiu com a chegada do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. O banquete oficial em Brasília para Kohler quase teve de ser acelerado, para ele retornar a São Paulo uma hora antes de Bush desembarcar na capital paulista.

No dia seguinte, Kohler permaneceu em São Paulo e pôde acompanhar pela imprensa toda a intensa movimentação em torno da assinatura pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Bush de um compromisso de investimentos e pesquisa em biocombustíveis.

Isso parece ter dado um empurrão nos alemães, líderes na União Européia (UE), para se convencerem da importância do etanol na estratégia brasileira e para as relações bilaterais.

O próprio Lula insistira com o presidente alemão, em Brasília, para estreitar a cooperação no setor. Para o Brasil, um maior consumo de biocombustíveis na Alemanha estimulará a a introdução do etanol na matriz energética de todo o continente europeu.

Até agora, em todo caso, a indústria automobilística alemã mostrou pouco interesse em estimular a entrada de etanol brasileiro, apesar de sua importância decisiva no surgimento do carro flex no Brasil. Quando o governo brasileiro sugeriu à Volkswagen trazer carros flex para demonstrações na Alemanha, a resposta foi negativa. Um acordo para uma frota de ônibus do correio alemão testar biodiesel tampouco prosperou.

Só que o governo de Berlim não ignora a proliferação de acordos sobre etanol que o Brasil faz com seus parceiros. O mais recente foi assinado com a Itália, durante a visita do primeiro-ministro, Romano Prodi.

Os alemães notam que a própria União Européia está se mobilizando. Nos dias 5 e 6 de julho, haverá um grande encontro internacional sobre biocombustíveis, que será aberto pelo presidente Lula e pelo presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso.

Em paralelo, o Brasil e a UE iniciaram um "diálogo sobre energia", que pode ter mais tarde uma dimensão comercial. O fato é que o etanol brasileiro enfrenta na UE praticamente a mesma barreira tarifária que sofre nos Estados Unidos. E isso pode mudar se os alemães, com toda sua força, decidirem dar um empurrão forte. (AM)