Título: Ganho financeiro beneficia a Aracruz
Autor: Francisco Goés e André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2005, Empresas &, p. B1

A Aracruz Celulose deve registrar um ganho de cerca de 130% maior no quarto trimestre do ano na comparação com igual período do ano anterior, resultado beneficiado pela valorização do real frente ao dólar. Projeções de analistas ouvidos pelo Valor indicam que a fabricante de celulose deve apresentar um lucro líquido de R$ 362 milhões no último trimestre do ano na comparação com igual período do ano anterior. O resultado, contudo, deve ficar ligeiramente aquém dos R$ 368 milhões obtidos no terceiro trimestre. A Aracruz, que anuncia amanhã suas demonstrações financeiras, inaugura a divulgação da safra de balanços anuais referentes a 2004. Na próxima terça-feira, a Votorantim Celulose e Papel (VCP), outra grande fabricante do setor, anuncia seus resultados do ano passado.

A valorização de cerca de 6% do real trouxe ganhos à companhia por conta dos resultados financeiros obtidos no trimestre. A maior parte da dívida da Aracruz está atrelada ao dólar e, com o fortalecimento do real, o efeito torna-se positivo sobre o resultado da empresa. "Aproximadamente 60% dos custos da companhia estão direta e indiretamente relacionados à moeda local, enquanto quase 100% das receitas estão denominadas em dólar", diz Marcelo Aguiar, analista da Merrill Lynch. Enquanto o resultado financeiro melhorou, o operacional, contudo, não contou com a ajuda dos preços da celulose no mercado internacional. No último trimestre de 2004, os preços da commodity apresentaram recuo de 3% a 4% em dólar. As fabricantes de celulose de eucalipto já anunciaram reajustes de preços para o início deste ano por conta do reaquecimento da demanda. Na projeção dos analistas, a Aracruz, que exporta praticamente toda a sua produção, deve ter aumentado o volume de vendas para 650 mil a 690 mil toneladas no trimestre. No quarto trimestre de 2003, ela havia vendido 640 mil toneladas. A analista de papel e celulose Juliana Chu, do Unibanco, avalia que a Aracruz deverá atingir sua meta anual de vendas de 2,4 milhões de toneladas ao ter vendido 650 mil toneladas no último trimestre. "Esse aumento não deverá ser suficiente para compensar a queda do preço médio de aproximadamente 3% em dólar e a desvalorização do dólar americano de 6%", disse. Ela projeta receita líquida de R$ 837 milhões no quarto trimestre com queda de 5,5% em relação ao terceiro trimestre de 2004. Juliana Chu estima ainda um lucro líquido de R$ 382 milhões no quarto trimestre, com alta de 3,8% sobre o terceiro trimestre e lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida) de R$ 406 milhões. O analista do HSBC, Fabio Zagatti, prevê vendas de 640 mil toneladas no trimestre e acredita que os dados poderão surpreender com as informações recentes de plena atividade do setor. "Os estoques de celulose deverão ficar estáveis em torno de 50 dias ao final do trimestre." Zagatti prevê uma margem lajida igual ao terceiro trimestre, em torno de 50,8%, levando em conta uma manutenção nos custos operacionais da companhia. Até o fim deste semestre, a Aracruz dá largada ao início do empreendimento da Veracel, joint-venture com a sueco-finlandesa Stora-Enso, no Sul da Bahia. Neste ano, a Veracel deve começar a produzir cerca de 300 mil toneladas de um projeto que totaliza 900 mil toneladas por ano. As ações preferenciais da Aracruz fecharam o pregão de ontem com alta de 0,54%, pouco acima do 0,32% registrado pelo índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa).