Título: País desperdiça menos energia, diz EPE
Autor: Góes, Francisco e Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2007, Brasil, p. A12

A revisão do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2006 de 2,9% para 3,7% mostra que o Brasil consegue crescer mais com uma oferta menor de energia elétrica. "O ajuste do PIB nos fez ver que a produtividade, a eficiência da economia, é maior do que imaginávamos antes, ou seja, que existe desperdício menor de energia", disse ontem Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão de estudos e planejamento ligado ao Ministério de Minas e Energia.

Ele disse que a revisão do PIB não levará a EPE a alterar sua previsão sobre a demanda de energia elétrica para 2007. A empresa trabalha com um crescimento de 5,2% para o consumo de energia elétrica este ano em relação a 2006. "Por enquanto mantemos as projeções de consumo que haviam sido feitas", disse Tolmasquim. A EPE projeta uma expansão de 4,5% para o PIB neste ano.

Tolmasquim avaliou que a EPE tinha conhecimento de uma melhoria de eficiência, com menor desperdício de energia, mas demonstrou surpresa: "Essa eficiência é maior do que pensávamos."

Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores, mostrou-se cauteloso quanto ao uso dos números do PIB para provar a redução da ineficiência energética. Ele considera que o mais correto seria fazer uma análise do consumo de energia em relação ao PIB por setor, analisando por exemplo o desempenho da indústria antes e depois da nova metodologia de cálculo do PIB.

Octavio de Barros, diretor de pesquisa macroeconômica do Bradesco, avaliou que a análise do presidente da EPE faz sentido. "Há uma maior eficiência no consumo de energia elétrica no Brasil tanto nas famílias quanto nas empresas", disse Barros.

Tanto ele quanto Pessoa concordam que para o Brasil crescer de forma sustentada a taxas de 4,5% a 5% ao ano será preciso investir em novos projetos de energia elétrica e essa realidade não mudou com o novo PIB. Apesar de a taxa de investimento ter sido reduzida pela nova metodologia, o esforço para garantir um maior crescimento da economia será o mesmo. Estima-se que para crescer 5% ao ano a taxa de investimento terá de atingir cerca de 20% do PIB pelos novos cálculos. Antes a maior parte dos economistas apontava para 25%.

Tolmasquim também chamou a atenção para a relação entre o crescimento do consumo de energia e do PIB. Ele disse que, para cada ponto percentual de crescimento do PIB, o consumo de energia elétrica no Brasil precisa crescer 1,2 ponto percentual. Nos países desenvolvidos, comparou, o crescimento do PIB depende de um consumo menor de energia. "Estamos nos aproximando dos países desenvolvidos", disse o presidente da EPE.

Ele divulgou ontem o Balanço Energético Nacional 2007, um anuário estatístico com resultados preliminares de 2006. Um dos destaques foi o crescimento dos produtos de cana-de-açúcar na oferta interna de energia, no ano passado. "Em 2006, os produtos da cana-de-açúcar se equipararam à energia hidráulica na matriz energética brasileira", disse Tolmasquim. A matriz inclui petróleo e derivados, gás natural, carvão mineral e urânio, além de energia renovável (hidráulica, lenha e carvão vegetal, produtos de cana e outras).

De acordo com o anuário, a oferta interna de derivados da cana-de-açúcar respondeu por 14,4% da matriz energética em 2006, muito próxima ao percentual da energia hidráulica, de 14,6%. No ano passado, a produção de etanol no país chegou a 17,8 bilhões de litros, o que significou um crescimento de 10,8% em relação a 2005.

"As perspectivas para os próximos anos é que o etanol continue a ser uma vedete na matriz energética brasileira", disse Tolmasquim. Ele previu que a tendência é que o etanol supere a hidroeletricidade. Segundo Tolmasquim, o plano decenal de energia elétrica para o período 2007-2016, a ser divulgado em maio, terá uma parte dedicada à expansão do álcool. A tendência é que o álcool e a geração de energia elétrica a partir do bagaço de cana ganhem ainda mais relevância.(*Do Valor Online)