Título: Alimentos ainda pressionam e IPC da FGV sobe 0,63%
Autor: Elias, Juliana
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2013, Brasil, p. A4

Na primeira semana completa depois do anúncio do pacote do governo federal que desonerou produtos da cesta básica, os alimentos continuaram a pressionar a inflação. O grupo alimentação subiu 1,39% nas quatro semanas encerradas em 15 de março e foi o maior responsável pela alta do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). O indicador encerrou a segunda semana de março com variação de 0,63%, 0,11 ponto percentual acima do verificado na semana anterior.

"Ainda passou pouco tempo e deve haver impactos maiores no restante de março, mas, no curtíssimo prazo, podemos dizer que não há evidências de que as reduções estão sendo repassadas", disse Paulo Picchetti, coordenador do IPC Brasil no Ibre. No dia 8 de março, em pronunciamento em cadeia nacional, a presidente Dilma Rousseff anunciou uma medida provisória que reduziu PIS-Cofins e IPI de diferentes tipos de produtos alimentícios e de higiene pessoal incluídos na cesta básica. Mas as reduções ou aparecem de forma imprecisa no IPC-S, em produtos que já vinham apresentando trajetória de queda, ou simplesmente não apareceram.

A carne suína, por exemplo, teve alta de 0,93%, e a carne bovina, embora tenha apresentado queda de 1,44% nos preços, já vinha apresentando trajetória negativa, com menos 1,1% e menos 0,16% nas semanas anteriores. "Não dá para separar o que foi por conta das desonerações, e o que já era tendência de queda", pontua Picchetti. O grupo de carnes, pelo pacote de desonerações, teve o PIS-Cofins reduzido de 9,25% para zero. O papel higiênico, que também foi desonerado dos 9,25% de PIS-Cofins, apareceu com alta de 0,86% no IPC-S, ante aumento de 0,69% na semana anterior, e o óleo de soja desacelerou sua queda, de 1,13% para 0,92% nesta semana.

Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, destaca que, de qualquer forma, ainda é cedo para que as desonerações comecem a chegar com peso nos preços finais, seguradas principalmente por estoques ainda altos que precisam antes ser desovados. "Acreditamos que isso só começará a aparecer com peso na inflação em abril", disse.

A analista chama a atenção, no entanto, para o fato de que, no atacado, os preços dos alimentos já vêm caindo há dois meses: o índice dos produtos agrícolas, que mede o fornecimento a indústrias, distribuidoras e varejo, caiu 0,62% em janeiro e 1,31% em fevereiro. Ainda assim, nos IPCs - os indicadores que verificam os preços nos supermercado e estabelecimentos diretos ao consumidor - a queda vem resistindo em aparecer. "É difícil dizer a razão, mas há a possibilidade forte de que os varejistas estejam absorvendo a redução no atacado e não repassando para o consumidor, e isso reforça que é bem provável que o mesmo aconteça com as desonerações", disse Alessandra. Segundo ela, o comum é que o comportamento dos preços do atacado comece a chegar ao consumidor com um intervalo de um mês a um mês e meio, mas, no caso dos alimentos, eles já vêm se descolando desde janeiro.

"O governo está superestimando o impacto das desonerações da cesta básica na inflação", pontua Flávio Serrano, economista do Banco Espírito Santo (BES). "Os alimentos apenas acentuam a situação, mas a inflação é estrutural, e sua desoneração não muda esse quadro."

Serrano lembra que, excluído o grupo de alimentos, o IPC-S continua em patamar extremamente elevado, com os demais itens variando em torno de 0,4% a 0,5%. "Um índice nessa faixa significa uma inflação aproximada de 5,7% ao ano", disse o economista. A exceção é o grupo habitação, que, ainda sob influência das últimas parcelas de redução da tarifa de energia elétrica (-4,99%), oscilou em 0,4% para cima no IPC-S da quadrissemana encerrada em 15 de março. Vestuário subiu 0,51%; educação, leitura e recreação subiu 0,31%; transportes variou 0,78%, saúde e cuidados pessoais 0,53%, comunicação 0,40% e despesas diversas 0,26%.