Título: Calçadista adota loja própria para crescer no exterior
Autor: Daniela D'Ambrosio
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2005, Empresas &, p. B5

As calçadistas brasileiras estão dispostas a marcar presença e consolidar suas marcas no mercado internacional montando lojas próprias ou franquias. Grandes companhias, como Azaléia e Picadilly adotaram essa estratégia, o que não ocorre no Brasil. Aqui, elas vendem apenas por intermédio de terceiros em lojas multimarcas. Com uma marca sólida lá fora, a empresa consegue passar por momentos de câmbio desfavorável, como o atual, com mais facilidade. A. Grings, de Igrejinha (RS), a fabricante da Picadilly - que no ano passado produziu 8,5 milhões de pares de calçados e teve um faturamento de R$ 194 milhões - já tem três lojas na Argentina e seis na Venezuela, das quais três são franquias. A empresa vai exportar esse modelo de franquia para outros países. "Estamos em fase de detalhamento técnico e adaptação à legislação do país", explica Paulo Eloi Grings, diretor comercial da Picadilly acrescentando que há vários potenciais franqueados interessados. Os dois países nos quais a empresa tem lojas próprias são justamente seus principais destinos de exportação. Em 2004, a Argentina liderou o ranking, com a compra de 800 mil pares de sapatos, e a Venezuela foi o segundo país que mais importou, com 170 mil pares. No ano passado, a empresa exportou 30% da produção para 74 países. "Com as lojas nesses países, que enfrentaram dificuldades recentes em suas economias, conseguimos retomar rapidamente as vendas, porque a marca já era forte", completa Grings. Sobre a eventual construção de uma fábrica na Argentina - saída que algumas empresas do setor estariam pensando em tomar para facilitar a entrada naquele mercado -, o executivo diz que não descarta a possibilidade. "Não podemos simplesmente abrir mão de um mercado como o argentino." A Azaléia também adotou o modelo de lojas próprias e exclusivas (espécie de franquia que só vende a marca, mas não é da empresa). Há tanto lojas Azaléia, quanto Olympikus. A companhia possui hoje 18 lojas próprias e 71 exclusivas. O Chile é o principal país, com seis lojas próprias e 17 exclusivas, mas existem lojas também no Peru, Colômbia, México e até na República Tcheca - onde há quatro lojas. "Essas lojas são muito boas, pois permitem mostrar toda a coleção e reforçar a presença da marca no país", diz Paulo Santana, diretor de marketing. A empresa produziu, em 2004, 36 milhões de pares, faturou perto de R$ 1 bilhão e exporta 25% da produção. De acordo com Santana, as lojas próprias são bem-sucedidas lá fora, mas o modelo não serve para o Brasil. "Aqui nossas vendas são pulverizadas e não vamos concorrer com os nossos clientes." A América Latina concentra esse tipo de negócio pois é considerada pelos calçadistas como uma extensão do mercado interno. "O clima e os produtos aqui são muito parecidos, já a Europa, por exemplo, tem um inverno rígido e exige produtos mais sofisticados, com modelagens diferentes", diz Santana.