Título: Têxteis estimam crescimento moderado
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2005, Empresas &, p. B6

A indústria têxtil inicia o ano cautelosa em fazer previsões de crescimento acentuado de vendas, mesmo diante de boas estimativas para a economia brasileira em 2005. Algumas indústrias preferem até mesmo não estimar aumento de faturamento neste ano em relação a 2004. O recuo do dólar nos últimos meses, diminuindo a competitividade em um momento que o mercado americano se abre ainda mais para compras com o fim das cotas de importação, é a principal preocupação do setor. "Acreditamos que vai haver melhora do mercado interno em 2005, mas com o dólar em queda, possivelmente teremos um cenário pior lá fora, o que nos deixa em compasso de espera", diz o presidente da Buettner, João Henrique Marchewsky. Ele prefere não projetar crescimento anual. "Será um ano de grandes mudanças, em que sentiremos como ficarão as vendas aos Estados Unidos. Estamos com os pés no chão", comenta. A Buettner, assim como outras indústrias têxteis, sofre com o endividamento elevado, mas isso não impediu que a empresa definisse 2004 como um bom ano. A Buettner fechou com crescimento de 15% no faturamento total em relação a 2003. O desempenho da empresa melhorou principalmente no exterior. A participação das vendas externas, que era de 45%, passou para 50% do faturamento total, totalizando US$ 30 milhões em 2004. No Brasil, a empresa sentiu pouca melhora em 2004 e acredita que os juros altos impedirão aumento de vendas neste ano. Para o diretor de exportação da Hering e presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis do Vale do Itajaí (SC), Ulrich Kuhn, não há horizonte claro para o setor no médio prazo e, por isso, as previsões estão cautelosas. "Que as cotas cairiam, todo mundo sabia. O que não estava previsto pelas indústrias era o fortalecimento exagerado do real diante do dólar", comenta. "Não há nenhum grande entusiasmo com 2005." A Hering, contudo, segundo ele, projeta crescimento para o ano. Ainda não está pronto o planejamento, mas Kuhn diz que o incremento será acima da média do mercado. Ele justifica dizendo que há situações particulares de empresas que conseguem, mesmo em um cenário como este, ter bom desempenho. O consenso no setor é de que o dólar beirando R$ 3 deixaria as têxteis em uma situação mais cômoda para brigar com os asiáticos no concorrido mercado americano. O efeito do real valorizado, segundo Kuhn, fará com que empresas pequenas, que se esforçaram para chegar ao exterior, tenham que recuar em 2005. A Altenburg, indústria têxtil localizada em Blumenau, é uma das mais recentes no mercado externo. "Há preocupação com a competição com países que têm custos fixos muito menores do que os nossos em termos de impostos e mão-de-obra como China e Índia", diz o diretor comercial, Quilian Rausch. A empresa, contudo, vai continuar buscando novos países para exportação e apostando no mercado nacional. "Achamos que vai ser difícil repetir o mesmo crescimento de 2004, mas também não nos contentaremos com o patamar de crescimento previsto para o país", diz o executivo. A empresa cresceu cerca de 20% em vendas no ano passado e ainda não finalizou planejamento estratégico para o ano, preferindo não fazer estimativas exatas de crescimento para 2005. A Teka, empresa desde 2003 em reestruturação financeira, espera em 2005 atingir uso de 100% de sua capacidade instalada ante os 75% registrados em 2004. O presidente da companhia, Luiz Fernando Brandt, acredita que a empresa neste ano concluirá seu processo de ajustes e terá vendas mais fortes, mas prefere não fazer estimativas. "Queremos crescer mais do que a previsão para o Brasil."