Título: MST ocupa terreno de siderúrgica
Autor: Vera Saavedra Durão e Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2005, Empresas &, p. B6

O grupo ThyssenKrupp Sthal e a Cia. Vale do Rio Doce têm pela frente um grande desafio antes de iniciarem a construção de uma megasiderúrgica no Estado do Rio, no distrito industrial de Santa Cruz: desalojar 70 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que ocupam a área desde 1999. Hoje, os presidentes da ThyssenKrupp, Karl Köehler, e da Vale, Roger Agnelli, assinam com o governo do Estado do Rio de Janeiro protocolo de intenções para implantar em Santa Cruz, município do Rio, a Cia. Siderúrgica do Atlântico (CSA). O documento contempla os incentivos e contrapartidas a serem assumidos pela CSA, projeto de US$ 2,2 bilhões que representará o maior investimento da alemã ThyssenKrupp nos últimos 20 anos. O terreno onde será instalado o complexo siderúrgico da CSA tem cerca de 8 milhões de metros quadrados e pertence à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Humberto Mota, secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio, informou que existem negociações em curso entre o governo fluminense e o governo federal para permutar a área da CNEN em Santa Cruz por outra na região de Miguel Pereira, também no Estado do Rio, que serviria para fazer os novos assentamentos rurais. O MST informou, por meio de sua assessoria, que o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio (Iterj) negocia com o governo do Estado e com o governo federal para incluir nas cláusulas do contrato com a CSA a garantia de que as famílias serão assentadas em outro local. A medida é necessária, segundo o MST, porque já existiam tratativas entre a Cnen e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para assentar as famílias no local. Mota acrescentou que entre os incentivos a serem oferecidos à CSA está o diferimento de ICMS por meio do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social (Fundes). Segundo apurou o Valor, cerca de 60% do ICMS arrecadado será retido pela CSA para uso como capital de giro. Esse empréstimo terá seis anos de carência e prazo de 11 anos para pagamento, com juros de 6% ao ano. Em contrapartida, a CSA se compromete a proceder o desembaraço aduaneiro no Rio de Janeiro, fazer a exportação de seus produtos por meio de portos flumineses e assinar convênios com universidades estaduais. A empresa também terá de manter no Rio sua sede social e seu departamento de compras e adquirir preferencialmente materiais no Estado. O projeto da CSA prevê a construção de aciaria, termelétrica, coqueria, fábrica de gases e um terminal no porto de Sepetiba. O investimento total será de US$ 2,2 bilhões, disse uma fonte da Thyssen. Na primeira fase, em 2008, deverá produzir 4,4 milhões de toneladas de placas de aço por ano para exportação, volume que pode chegar 7,5 milhões até 2010. Karl Köhler estará acompanhado na cerimônia de assinatura do protocolo, no Palácio Laranjeiras, por Hans Ülrich Lindenberg, integrante da diretoria-executiva da ThyssenKrupp. A fonte do grupo alemão informou que na fase dos estudos de viabilidade Vale e Thyssen participarão meio a meio da CSA. Posteriormente, o grupo alemão ficará com 70% e Vale, 30%.