Título: Desoneração do mercado interno é a prioridade, afirma Miguel Jorge
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2007, Política, p. A14

A retirada de impostos que pesam sobre a produção e o investimento voltados ao mercado interno será a prioridade do Ministério do Desenvolvimento no segundo mandato, a pedido do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo afirmou o novo ministro da Pasta, Miguel Jorge. No Palácio do Planalto, ao ouvir insistentes perguntas sobre qual seria o status do BNDES, o novo ministro garantiu que o ministério comandará o banco, e chegou a dizer que teria poderes de nomear a diretoria. Depois da transmissão de cargo, no ministério, porém, Jorge afirmou não considerar necessárias "grandes mudanças" no ministério.

"O BNDES está ligado ao ministério, isso não é uma questão política", minimizou o novo ministro. "Houve no passado, agora está no lixo da história", comentou, em referência aos atritos, no primeiro mandato, entre o antecessor, Luiz Fernando Furlan, e o primeiro presidente do BNDES no governo Lula, Carlos Lessa.

A posse e a transmissão de cargo do novo ministro do Desenvolvimento foi acompanhada por poucos empresários - na maioria dirigentes de federações empresariais, e pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE). Além dos dirigentes de federações (menos de meia dúzia), nenhum dos executivos de grandes empresas, costumeiramente vistos nesse tipo de cerimônia foi a Brasília para acompanhar a mudança. Os executivos presentes, pródigos em elogios a Furlan e a Miguel Jorge, mostraram, porém, uma preocupação comum em defender que o governo não reduza a atenção com a competitividade externa das empresas brasileiras, apesar da anunciada ênfase para o mercado interno.

"No mercado globalizado, não se pode separar mercado interno e mercado externo", argumenta o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, para quem o novo ministro, ao lado da preocupação com queda de impostos para as empresas, só fortalecerá o mercado interno se trabalhar para buscar uma taxa de câmbio mais favorável (com maior cotação do dólar em relação ao real) e juros menores na economia.

"Hoje, quem não exporta, importa; ao lado da agenda de crescimento, a agenda externa do ministério tem de continuar muito forte", defendeu o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogélio Golfarb. O país não pode correr o risco de concentrar suas exportações só em mercadorias indiferenciadas, as commoditties, que encontram um cenário favorável no exterior, argumenta ele. Para o presidente da CNI, Armando Monteiro, a equipe econômica à qual se integrou Miguel Jorge discute hoje se o Brasil deve se especializar em mercadorias de grande competitividade externa ou se deve garantir a sobrevivência e modernização de uma indústria diversificada.

"A política industrial brasileira tem de sair desse impasse: ou caminha para a especialização onde tem competitividade óbvia ou vamos para uma base mais diversificada", analisa Monteiro, que defende a segunda opção. Para Monteiro, o novo ministro terá de se empenhar para avançar na agenda de redução de impostos, e obter dos Estados compromissos de redução do tributo hoje mais pesado para as empresas, o ICMS.

Miguel Jorge descartou mudanças no regime de câmbio. "O câmbio está onde está, é flutuante, e os empresários têm se adaptado de maneira impressionante", disse ele, repetindo os argumentos do Banco Central.

Depois de gracejar com o pouco tempo em que foi escolhido para o ministério ("primeiro, preciso saber onde fica meu gabinete", respondeu ao lhe perguntarem as prioridades), Jorge reuniu-se com a equipe de secretários do ministério, que descobriu ontem o hábito do novo ministro de dispensar o almoço. Ele já tem pelo menos um posto a ocupar em curto prazo: o secretário de Desenvolvimento da Produção, Antônio Sérgio Mello, anunciou que deixa o cargo para trabalhar na iniciativa privada, em uma indústria do setor automotivo.