Título: Palanques estaduais do PSD tendem a Dilma
Autor: Agostine, Cristiane; Di Cunto, Raphael
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2013, Política, p. A9

Em sua primeira disputa estadual, o PSD prepara-se para lançar de 10 a 12 candidatos próprios em 2014. Nas contas que o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tem feito com seus correligionários, a maior parte dos palanques do partido nos Estados deve alinhar-se à reeleição da presidente Dilma Rousseff, apesar de o PSD ter descartado ministérios.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, Kassab planeja se lançar ao governo mesmo sem partidos aliados. A candidatura do ex-prefeito da capital paulista deverá ter cerca de 3min30s no horário eleitoral. Correligionários lembram que o apresentador de televisão Celso Russomanno (PRB) ficou em terceiro lugar na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2012, com 1,3 milhão de votos, apesar de ter tempo reduzido na televisão, com pouco mais de dois minutos.

Sem aliados e com poucos prefeitos, a aposta do PSD é ampliar a capilaridade da candidatura Kassab no Estado com o apoio da UGT, terceira maior central sindical, comandada por Ricardo Patah (PSD); de associações comerciais; e da diretoria da Associação Paulista de Medicina, presidida pelo deputado federal Eleuses Paiva (PSD).

Ao lançar candidatura própria em São Paulo, o PSD tentará se descolar da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) para criticá-la, apesar de o partido ter o vice, Guilherme Afif Domingos. Aliados do ex-prefeito lembram que Afif foi demitido por Alckmin da Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

Atualmente o vice comanda as Parcerias Público-Privadas (PPPs) do Estado. Afif foi cogitado para assumir a recém-criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa, com status de ministério, mas a negociação perdeu força depois que o PSD optou por não compor o governo federal até 2014.

O mote da campanha de Kassab deve ser o da ordem pública, a exemplo de sua gestão na capital. Entre as ações que poderão ser vitrines estão a Operação Delegada, que colocou policiais militares nas ruas para fiscalizar o comércio ilegal; a nomeação de coroneis para comandar subprefeituras, a restrição à circulação de caminhões e a implementação do Cidade Limpa, para ordenar a publicidade.

Além de São Paulo, o partido começou a estruturar pré-candidaturas na Bahia (vice-governador Otto Alencar), Mato Grosso (presidente da Assembleia Legislativa, José Riva), Santa Catarina (reeleição de Raimundo Colombo), Amazonas (reeleição de Omar Aziz), Rio Grande do Norte (vice-governador Robinson Faria) e Distrito Federal.

Em Goiás, o PSD deve servir de palanque para a oposição ao governo Dilma, ao compor com o PSDB. O partido deve indicar o candidato ao Senado na chapa encabeçada pelo tucano Marconi Perillo, que tentará a reeleição.

Na disputa presidencial, apesar da boa relação de Kassab com o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o comando do PSD mantém aquilo que foi dito pelo ex-prefeito a Dilma na semana passada: o partido deve estar no palanque da presidente apesar da recusa a cargos no governo. Antes de o ex-prefeito criar a legenda, Campos o convidou para ingressar no PSB. Os dois políticos chegaram a negociar a fusão das legendas, mas o ex-prefeito paulistano preferiu manter o PSD independente do PSB.

Na análise da cúpula do PSD, a pré-candidatura de Campos desidratará até 2014. Para dirigentes do partido, o espaço hoje ocupado pelo governador pernambucano na imprensa é o da oposição, que tende a se aglutinar em torno do senador Aécio Neves (PSDB-MG), devido à maior estrutura partidária do tucano. O PSDB tem oito governadores, força em São Paulo e Minas e o apoio do empresariado, articulado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Já Campos, analisam dirigentes do PSD, disputaria o mesmo eleitorado de Dilma e, por isso, deve ter mais dificuldades. No Nordeste, dizem, o presidente do PSB só tem apoio em Pernambuco, Estado que governa. Além disso, enfrentará a resistência do governador do Ceará, Cid Gomes, e de seu irmão, o ex-ministro Ciro Gomes, ambos do PSB, que apoiam Dilma.

A ex-senadora Marina Silva, que tenta criar o partido Rede Sustentabilidade, teria ainda mais dificuldades do que Campos, avalia o comando do PSD. Além dos mesmos obstáculos de 2010, como a falta de palanques estaduais e tempo escasso de televisão, Marina não representará mais "a novidade" como foi na eleição passada.

Em 2010, lembram dirigentes do PSD, a campanha de Marina foi a única terceira via e mesmo assim não chegou ao segundo turno. A tendência é de não ultrapassar os 18% de votos em 2014.

O PSD atua para aprovar o projeto apresentado pelo deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), que limita o acesso de novos partidos a recursos do fundo partidário e à divisão do tempo de propaganda eleitoral. Se passar, o projeto deverá dificultar ainda mais a eventual candidatura de Marina.