Título: Ausência de pesos pesados
Autor: Rothenburg,Denise ; Kleber,Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 22/12/2010, Politica, p. 3

Definição do ministério de Dilma confirma a carência de personalidades estelares e a resignação em acatar interesses partidários

A presidente eleita fecha hoje seu ministério sem vários dos pesos pesados cogitados para fazer parte do primeiro escalão. A Secretaria de Portos, que seria acrescida de Aeroportos para abrigar Ciro Gomes, terminou com apenas a atual atribuição e nas mãos do prefeito de Sobral, Leônidas Cristino, ligado a Ciro (leia mais na página 4). Os aeroportos ficam sob o guarda-chuva da Defesa, com Nelson Jobim. A Secretaria de Relações Institucionais será comandada pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), um dos mais inexpressivos líderes do PT no governo Lula. Para os petistas de um modo geral, a escolha de Luiz Sérgio fortalece a figura do futuro ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que cuidará da articulação política propriamente dita, enquanto Sérgio ficará mais afeito ao dia-a-dia do Congresso.

Os nomes dos ministros foram anunciados ontem, com a permanência de Jorge Hage na Controladoria Geral da União. Dilma chegou a cogitar a nomeação de Cândido Vaccarezza (PT-SP), um peso pesado da política no Congresso, para Relações Institucionais. Mas, dada a importância da bancada do Rio de Janeiro na correlação de forças do parlamento, era preciso fazer um afago aos cariocas. Os deputados do Rio e o governador Sérgio Cabral, do PMDB, perderam a Saúde e ficaram apenas com a Cultura, para onde vai a cantora Ana de Hollanda, irmã de Chico Buarque e escolha pessoal da presidente eleita. Faltava, então, um gesto político de apreço à bancada, uma vez que a Autoridade Pública Olímpica (APO), outro cargo que o PT do Rio almeja, não terá status de ministério.

A APO ficou fora da cesta para negociação partidária porque não se sabe quando a instituição estará pronta. A Assembleia Estadual do Rio já analisou o projeto, mas o prefeito Eduardo Paes (PMDB) nem sequer enviou a proposta à Câmara Municipal. Paes tem alegado que discorda da concepção da APO, porque avança sobre atribuições da prefeitura, como projetos urbanísticos e infraestrutura. Nesse sentido, Dilma achou melhor guardar a APO na gaveta, deixar Orlando Silva no Esporte e prestigiar o Rio com Relações Institucionais. Assim, nomeou Luiz Sérgio (leia perfil). Quem cuidou das sondagens foi Palocci.

Antes mesmo do anúncio oficial, Luiz Sérgio já despontava no Twitter como ministro. O PSB, mais contido, preferiu aguardar a oficialização dos nomes de seus ministros para cumprimentá-los. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, já estava convidado desde ontem, mas Leônidas Cristino só recebeu a deferência formal ontem. O governador do Ceará, Cid Gomes, foi quem apresentou Leônidas à presidente eleita. Amigo de Ciro Gomes desde os tempos de escola, o prefeito de Sobral trabalhou na Transnordestina e, quando Ciro foi prefeito de Fortaleza, ocupou uma supersecretaria que cuidava de obras, comunicações e transportes.

Com a oficialização desses ministros, faltam dois outros nomes para Dilma fechar o primeiro escalão e nove mulheres na equipe. Para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, estava ¿tudo encaminhado¿, conforme comentou o futuro senador Wellington Dias (PT-PI), para a nomeação de Maria Lúcia Falcon. A Democracia Socialista (DS), no entanto, reivindicou o cargo. Ontem à noite, Dilma recebeu o deputado federal eleito Afonso Florence (PT-BA), da DS, que deve ser o novo ministro. O outro posto pendente é a Secretaria das Mulheres, para onde foi convidada Iriny Lopes (PT-ES).

Colaborou Alana Rizzo

PERSONAGEM DA NOTÍCIA "Luiz? Nunca ouvi falar" Dida Sampaio/AE - 26/3/08 Na última segunda-feira, um senador do PMDB perguntava a uma jornalista quem seria o futuro ministro de Relações Institucionais. A resposta: ¿Ouvi que será o Luiz Sérgio¿. O senador ficou com uma interrogação na face. ¿Nunca ouvi falar¿. O parlamentar peemedebista, que de baixo clero não tem nada, está na situação de muitos outros políticos. Luiz Sérgio foi líder do PT em 2007. De atuação discreta, não se destacou nacionalmente, mas ganhou prestígio suficiente para, no ano passado, virar presidente do partido no Rio de Janeiro. Seus aliados o comparam a um ¿fusquinha¿: modesto, porém de fácil acesso e conserto. Ele é do grupo Construindo um Novo Brasil e ligado ao ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, e ao ex-ministro José Dirceu. Está sempre a postos para ajudar. Há duas semanas, quando o petista Marcelo Sereno, que não se elegeu deputado federal, veio a Brasília saber dos pedidos de investigação sobre a máfia dos combustíveis na antiga refinaria de Manguinhos, os dois conversaram animadamente na Comissão de Fiscalização e Controle. Os pedidos de investigação parlamentar não chegaram a ser votados.