Título: Constantino afirma que comprou aérea sem passivos
Autor: Villela, Janaina e Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2007, Empresas, p. B2

Diante dos questionamentos sobre a possibilidade de herdar as bilionárias dívidas da "velha" Varig, que está em recuperação judicial, a Gol afirmou diversas vezes que adquiriu uma empresa "livre de passivos", durante entrevista coletiva aos meios de comunicação. O presidente da companhia aérea, Constantino de Oliveira Jr., disse que os riscos de sucessão de dívidas foram sendo dirimidos a partir de julho de 2006, quando a unidade produtiva da Varig foi vendida em leilão para a Volo.

Àquela época, a solução encontrada para a sobrevivência das operações da Varig dentro de seu plano de recuperação judicial foi separar a parte operacional da empresa em uma unidade produtiva e vendê-la. Segundo a opinião de especialistas, o risco de sucessão para quem comprou essa operação se dá porque a definição de unidade produtiva ainda pode ser questionada e a sua venda, portanto, invalidada.

Oliveira Jr. afirmou que não existe risco de isso acontecer. "Na época do leilão, os credores aprovaram a venda da unidade produtiva. Quem manda são os credores", disse o executivo. "Os passivos são da Varig que está em recuperação. A Nova Varig está livre de passivos".

Ao ser questionado sobre a situação financeira da Nova Varig e sobre a veracidade dos rumores de que a empresa tem prejuízos mensais de US$ 20 milhões, Oliveira afirmou não conhecer o resultado líquido da companhia. Perguntou-se, então, se a Gol havia olhado os balanços da companhia. "Olhamos o balanço da Varig, passivo e ativo, que é saudável. Não olhamos os balancetes mês a mês dos resultados", completou.

Oliveira disse que a aviação permite reverter perdas de forma rápida com a adoção de algumas medidas, que incluem ajuste da malha e da frota. O executivo não estimou o tempo necessário para tornar as operações da Nova Varig lucrativas, caso sejam mesmo deficitárias. Oliveira também não fez projeções sobre o tamanho dos possíveis ganhos com sinergias e os impacto nos resultados de 2007. "Nos últimos dias, estivemos muito concentrados nas negociações. Ainda é cedo para falar de resultados, mas o impacto já vai aparecer no segundo trimestre."

Constantino de Oliveira Jr. confirmou a informação de que a Gol contratará os cerca de 2 mil funcionários da Varig. O grupo Gol deverá fechar o ano de 2007 com cerca de 11,6 mil empregados. Ainda não está definido quem assumirá a gestão da Varig, que será separada da administração da Gol.

Sobre o modelo de negócios da Nova Varig, Oliveira definiu-o como "baixo custo, longo alcance", a respeito das operações internacionais. O executivo disse que a entrada da Varig em uma aliança será estudada, porque é essencial para a viabilidade das operações no exterior. A Gol iniciou contatos com empresas de leasing para arrendar as aeronaves Boeing previstas para a Varig, um total de 17, que elevariam a frota da empresa para 34. Para o futuro, o objetivo da Gol é negociar a compra de aviões com as fabricantes.

Para viabilizar a negociação com os ex-acionistas da Varig, a Gol Linhas Aéreas, holding do grupo, emitiu 6,1 milhões de ações preferenciais (PNs), ou 3% do total. Isto gera uma redução no valor das ações dos outros detentores de PNs, mas, segundo Oliveira, a geração de valor para a companhia com a aquisição "mais que compensará" essa perda. As ações PN da Gol tiveram a maior alta da Bovespa ontem, de 10,14%.