Título: Nossa Caixa estuda parceria com CDHU
Autor: Felício, Cesar e Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2007, Finanças, p. C1

A Nossa Caixa vai fazer um acordo com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), vinculada à Secretaria da Habitação. Com o acordo, o banco controlado pelo governo de São Paulo pretende financiar a venda de imóveis para funcionários públicos de baixa renda e gerenciar a cobrança das operações da CDHU, que têm alto índice de inadimplência.

A CDHU constrói e financia moradias populares para famílias com renda de 1 a 10 salários mínimos para minorar o déficit habitacional do Estado, estimado em 400 mil unidades.

O presidente da Nossa Caixa, Milton Luiz de Melo Santos, garantiu que a rentabilidade do banco não será prejudicada pela entrada nesse negócio e sim vai "até melhorar. Vamos atuar com os clientes de renda mais elevada e com a garantia do desconto em folha", afirmou Santos.

Ele negou rumores de que a carteira da CDHU, com índice elevado de inadimplência reconhecido pela Secretaria da Habitação, seria transferida para a Nossa Caixa. O banco apenas usará sua especialização jurídica e operacional em cobrança para tentar recuperar financiamentos da CDHU.

Ao mesmo tempo, cumpriria em parte a exigibilidade de direcionar 65% dos recursos da poupança para o financiamento imobiliário com linha para a baixa renda, focada no funcionário público. "O custo não será inferior ao de captação do banco. O subsídio será dado pela CDHU", garantiu.

O anúncio de Santos pode trazer mais preocupação aos investidores, que vêm se desfazendo pesadamente das ações da Nossa Caixa. As ações chegaram a cair 7,6% ontem e fecharam com queda de 4,92%, em um dia em que o índice Bovespa subiu 1,96%. A cotação de fechamento da Nossa Caixa, R$ 30,90, ficou abaixo dos R$ 31 da oferta pública de abertura do capital no final de outubro de 2005. Naquele mês, o governo vendeu 28,75% do capital do banco; outros 21,25% seriam vendidos no ano passado, mas o lançamento foi suspenso por causa da mudança de governo.

Desde o início do governo Serra, em janeiro, as ações do banco já caíram cerca de 35% por causa da preocupação com interferências políticas no banco.

Para alguns analistas, esse temor se confirmou justificável depois que a Nossa Caixa divulgou, terça-feira, acordo com o governo estadual pelo direito de pagar por cinco anos o salário de 1,1 milhão de funcionários públicos estaduais. O banco pagou ao governo R$ 2,084 bilhões por isso. No início do ano, a Nossa Caixa passou a pagar o salário de 600 mil servidores que antes recebiam pelo Santander Banespa; outros 590 mil já tinham o crédito do salário no banco estadual.

Santos minimiza as queda das ações: "Se há alguém vendendo é porque há alguém comprando", disse ressaltando que o acordo com o governo estadual foi um ótimo negócio para o banco. Com ele, os funcionários não terão conta-salário, o que vai dificultar a transferência dos salários creditados para o Santander Banespa. Sem a conta-salário, o cliente pode fazer mensalmente sem custos apenas uma transferência ou saque, total ou parcial dos recursos; e obter um talão e um cartão de débito.

Mas Santos admitiu que a principal tarefa agora será rentabilizar a nova clientela, que representa 20% da sua base. Por isso, o presidente do banco se reuniu, ontem, com gerentes e primeiro escalão para discutir o aumento de receitas e corte de gastos.

Entre os novos produtos que a Nossa Caixa pretende lançar para rentabilizar a clientela estão o financiamento de veículos e novas modalidades de crédito imobiliário. Uma idéia em desenvolvimento é oferecer crédito imobiliário a custos mais baixos a clientes que já adquiriram cotas do consórcio de imóveis que o banco tem em parceria com a Rodobens. Elegíveis para a linha em parceria com a CDHU estariam 22% dos 1,1 milhão de servidores estaduais que recebem salário de até R$ 799,00.

Da carteira total de crédito para a pessoa física do banco, que atingiu R$ 4,9 bilhões em fevereiro, mais da metade - 55,2% ou R$ 2,7 bilhões - foram tomados por funcionários públicos.

"Infelizmente, alguns analistas do mercado estão equivocados. Estão vendo apenas as despesas e não o retorno", afirmou Santos, lembrando que a folha dos servidores trouxe para o banco um movimento mensal de R$ 2,280 bilhões. Desse total, 65% estão permanecendo na Nossa Caixa e 35% sendo transferido para o Santander Banespa, que fez acordos para isso, antecipando o pagamento dos salários e cobrindo os custos das transferências - despesas que não deverão mais ser cobradas a partir de abril.

A meta da da Nossa Caixa, disse Santos, é elevar para 80% a 90% o percentual dos recursos que ficam no banco, "oferecendo juros menores, prazo e comodidade. Sei que reter 100% é difícil".