Título: Dilma requisita, mas fica sem encontro com papa
Autor: Saccomandi, Humberto
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2013, Internacional, p. A13

Perder algo importante numa viagem, costuma-se dizer, é como ir a Roma e não ver o papa. A presidente Dilma Rousseff veio a Roma, verá o papa nesta manhã, mas ficou sem o desejado encontro particular com Francisco, que decidiu receber privadamente apenas a presidente Cristina Kirchner.

Dilma e cerca de 80 outros chefes de Estado e de governo participam hoje da missa e da cerimônia de inauguração do pontificado do primeiro papa latino-americano.

O governo brasileiro tentou agendar uma encontro de Dilma com o papa, mas o máximo que as autoridades brasileiras obtiveram foi a promessa de uma saudação mais prolongada com a presidente Dilma após a missa, quando Francisco receberá os cumprimentos dos líderes mundiais.

A presidente havia dito que não viria a Roma para a cerimônia, mas acabou mudando de ideia, numa possível estratégia de agradar ao eleitorado católico brasileiro e de aparecer ao lado de um papa que tem despertado interesse e simpatia incomuns, não só pela sua origem, mas principalmente pelos seus primeiros atos simbólicos, que denotam mais proximidade com os fiéis e uma sensibilidade maior com os pobres.

Dilma disse ontem que falará ao papa justamente sobre o combate à fome e à pobreza. "Acho que um papa preocupado com a questão da fome no mundo tem um papel especial", afirmou após visita à FAO, órgão da ONU que cuida de agricultura e alimentação. A entidade é presidida pela brasileiro José Graziano, que foi ministro no governo Lula.

Mais tarde, Dilma se reuniu com o presidente italiano, Giorgio Napolitano, mas não foram divulgados detalhes da conversa. Na Itália, quem governo é o primeiro-ministro. O papel do presidente é o de um guardião institucional. Napolitano, porém, esteve à frente da reação negativa na Itália ao asilo concedido pelo Brasil ao ex-militante de extrema esquerda Cesare Battisti, condenado por homicídios pela Justiça italiana.

Pela manhã, após visitar uma exposição do pintor renascentista Ticiano, Dilma falou brevemente sobre o que espera do novo papa. Disse que é uma honra para a América Latina ter um papa. "Acho que é uma afirmação para a região." Mas ressaltou que o mundo de hoje pede "que as opções diferenciadas das pessoas sejam compreendidas", numa crítica à Igreja.