Título: Plano de energia renovável da UE pode custar 1,1 tri de euros
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2007, Internacional, p. A29

O plano da União Européia (UE) para "descarbonizar" a sua economia e liderar o combate mundial contra as mudanças climáticas poderá custar 1,1 trilhão de euros aos 27 países-membros até 2020. A estimativa foi feita pela consultoria McKinsey e revelada esta semana em Berlim. Várias líderes empresariais temem que os os objetivos ambientais de UE possam causar danos a indústria da região.

No último dia 9, os governantes da UE, impulsionados pela premiê alemã Angela Merkel, aceitaram o acordo de reduzir as emissões de gases-estufa em 20% até 2020, em relação aos níveis de 1990. O bloco prometeu chegar aos 30%, se outras nações seguirem o exemplo.

A Alemanha, na Presidência rotativa da UE, anunciou que espera alcançar seu objetivo por meio de enormes investimentos em tecnologia de energia renovável, na qual a Europa é líder mundial. Para ilustrar a seriedade do plano, legalmente obrigatório para os países, os líderes europeus concordaram que substituir 10% dos combustíveis de veículos para biocombustivel até 2020. E que 20% da energia européia também venha de fontes renováveis, como eólica e solar.

O que Merkel nem seus colegas europeus disseram foi como isso será implementado e nem quanto o plano vai custar. O problema virá no segundo semestre, quando os países negociarão como cada um vai "descarbonizar" sua economia.

O estudo da McKinsey é o primeiro que dá uma indicação da conta: entre 60 e 80 bilhões de euros por ano, podendo chegar a 1,1 trilhão de euros nos próximos 14 anos. Como comparação, os EUA já gastaram cerca de US$ 500 bilhões na guerra do Iraque, cujo custo total pode chegar a US$ 1 trilhão, diz Lawrence J. Korb, especialista em defesa do Center for American Progress.

O britânico Nicolas Stern, assessor especial do governo Blair, que escreveu um relatório sobre a ameaça climática na economia, tem advertido que é mais barato combater agora o aquecimento do planeta do que esperar por seus efeitos no longo prazo.

A McKinsey aponta em seu estudo uma boa e uma má notícia para a estratégia energética e climática européia. A boa é que a tecnologia atualmente disponível pode frear a deterioração climática do planeta neste século. A má é gigantesca dificuldade política para transformar essa ambição em realidade.

Vários dos países do ex-bloco soviético que entraram na UE em maio de 2004 estão bem atrasados no desenvolvimento de energia. A Polônia obtém 95% de sua eletricidade a partir do carvão. Eslováquia e Hungria reclamam que o uso de energia solar ou eólica podem ter um custo injusto para suas economias. A França quer manter sua alta produção nuclear, embora não se trate de energia renovável.

Por sua vez, Dinamarca, Espanha, países bálticos e a própria Alemanha estão mais desenvolvidas em energia renovável.

A Comissão Européia abriu esta semana o debate sobre os instrumentos econômicos disponíveis para alcançar seus objetivos. O primeiro é o fiscal. Ou seja, taxar a produção de energia e de combustível, passando por seus usuários, como veículos, aviões, barcos, além de água usada, detritos, embalagens, etc. Impostos diversificados e modulados em função do impacto sobre o clima e sobre o meio ambiente também estão em estudo. As indústrias seriam encorajadas a utilizar tecnologias e ter "comportamentos" ecológicos.

Outro instrumento possível é a ajuda pública. Por um lado, um grande número de subsídios pode ser suprimido se não for respeitado o meio ambiente. Por outro, mais empresas poderão se beneficiar de ajuda. Um caso concreto é a produtora de papel Leipa, quase na fronteira com a Polônia, que o governo alemão faz questão de mostrar a jornalistas visitantes.

A empresa utiliza 100% fibras recicladas, ou seja, toda sua matéria-primeira é papel usado. Há vinte anos, ainda na antiga Alemanha Oriental, utilizava até 50 litros de água por um quilo de papel. Hoje, são só seis litros, a água é reutilizada em outras etapas e depois tratada antes de ser despejada de volta no rio mais próximo. Para retirar a tinta do papel usado, a empresa não utiliza cloro. Parte da energia vem de fonte solar ou eólica. A produção é 15% mais econômica do que utilizando fibras naturais.

Funcionários do governo alemão insistem que os objetivos ambientais anunciados no começo do mês vão mudar a vida dos europeus, a partir de melhor eficiência energética nos mais variados campos. Uma campanha européia vai estimular os consumidores a desligar aparelhos que não estão usando, como televisores e computador. Só isso reduziria o gasto individual em até US$ 110 por ano.

Os alemães mencionam ainda a produção de novos carros, menores e mais eficientes, com limites na emissão de gases-estufa. As estradas serão melhoradas no velho continente nos próximos 10 anos.