Título: Desembolsos do BNDES indicam investimentos em alta, diz Coutinho
Autor: Santos, Chico; Martins, Diogo
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2013, Brasil, p. A5

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse ontem que os desembolsos da instituição na primeira quinzena de março indicam que "o primeiro trimestre será de recuperação dos investimentos" da economia brasileira. Os desembolsos do banco somaram R$ 21,186 bilhões em janeiro e fevereiro, com aumento de 39% ante igual período de 2012.

Segundo Coutinho, os dados da primeira quinzena de março seguem "fortes", sinalizando que nos primeiros três meses do ano os investimentos terão "participação importante para a recuperação do crescimento da economia". Para o presidente do BNDES, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vai crescer "pelo menos" 3,5% neste ano. A previsão é otimista em relação às estimativas do mercado, situadas em 3% ou um pouco menos.

Nos dois primeiros meses do ano, a indústria liderou o crescimento nas liberações do BNDES, com participação de 32% no total de empréstimos realizados pela instituição. Ao todo, o banco desembolsou para o setor R$ 6,9 bilhões, uma alta de 112% frente a igual período do ano anterior.

"O mês de janeiro houve um aumento forte na produção industrial, que arrefeceu, aparentemente, em fevereiro. Há uma certa oscilação. A expectativa é de recuperação da indústria ao longo de 2013", afirmou o presidente do BNDES.

Para Coutinho, o crescimento menos intenso da indústria observado em fevereiro está relacionado ao Carnaval, período em que a atividade industrial normalmente sofre um refluxo. "É preciso dar um desconto. Vamos esperar para março para avaliar a tendência de recuperação da indústria", disse.

As operações do BNDES Finame, linha voltada exclusivamente para a compra de máquinas e equipamentos, somaram R$ 10,238 bilhões no período janeiro-fevereiro, com aumento de 60% em relação a igual período do ano passado. Ainda assim, elas não foram suficientes para tornar positivo o desempenho anualizado da linha. Nos 12 meses encerrados em fevereiro deste ano, o BNDES Finame liberou R$ 47,408 bilhões, com queda de 6% em relação aos 12 meses imediatamente anteriores.

Sobre o rebaixamento da classificação de risco do BNDES e de sua subsidiária BNDESPar pela agência Moody"s, Coutinho disse que ela não preocupa, inclusive porque não causou nenhum impacto no mercado. "O banco não está preocupado. Não houve impacto nos mercados em relação ao "yield" (a taxa de juros dos títulos) do banco", afirmou.

Na quarta-feira, a Moody"s rebaixou de A3 para Baa2 as notas do banco, da sua subsidiária e também a da Caixa. O rebaixamento significou uma queda de dois degraus na classificação do BNDES e da BNDESPar, tornando o "rating" das duas estatais igual à classificação soberana do país.

A justificativa da Moody"s para o rebaixamento do BNDES foi o fato de ter havido "deterioração na qualidade de crédito intrínseca dos banco e, particularmente, o enfraquecimento das sua posição de capital de nível 1". Significa que o banco ficou muito alavancado em relação ao seu capital de referência com a elevação dos empréstimos para evitar a contaminação da economia brasileira pela crise internacional.

Para o ex-ministro do Planejamento (governos Emilio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, nos anos 1970) João Paulo dos Reis Velloso, o banco estatal "está fazendo justamente o que tem que ser feito ante a crise mundial: política anticíclica". Velloso foi um dos principais responsáveis pela expansão do BNDES na década de 1970, com o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) e atualmente é conselheiro do banco estatal.