Título: Cade recebeu 49 casos de fusões apenas em março
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2007, Brasil, p. A2

Especialistas em defesa da concorrência acreditam que o mercado brasileiro está bastante aquecido e que este movimento crescente de fusões e aquisições não deve parar tão cedo no Brasil. Para eles, as empresas estão lançando ações no mercado para captar dinheiro e, com base nestes resultados, fazem novas aquisições, ao invés de simplesmente se apropriar dos lucros.

A novidade, neste movimento, é que as pequenas empresas também têm procurado se fortalecer no mercado e passaram a encaminhar suas fusões e aquisições para o Cade. Há uma série de novos negócios sendo notificados, bem menores do que os da última semana. São operações para o fortalecimento de pequenas e médias empresas em mercados específicos.

Somente em março, o Cade recebeu 49 novos processos de fusão. Há casos setoriais, como a aquisição pela Duke Energy da Sociedade de Energia Bandeirantes-Seband e da San Marino Ônibus pela Marcopolo, no setor de transportes; financeiros, como a união entre os bancos Cacique e Société Générale; e negócios envolvendo grandes companhias, mas que não representam megaoperações, como as fusões entre a Cargill e a Hatco e a Volvo e a Sagabrás.

A advogada Barbara Rosenberg, sócia do Barbosa, Müssnich & Aragão, afirmou que este aumento nas fusões e aquisições não é surpreendente. "É natural na medida em que o mercado está mais aquecido, com mais liquidez."

Para Barbara, a maioria dos novos negócios não são complexos do ponto de vista antitruste. Há, segundo ela, empresas médias e pequenas que, em outras ocasiões, não fariam fusões e aquisições. Mas agora estão captando dinheiro para realizar operações e, com isso, crescer no mercado. Esses negócios costumam ser bem vistos pelo Cade por representarem a possibilidade de companhias menores ampliarem o mercado frente aos grandes competidores.

E há também casos de grandes empresas que buscam se fortalecer em seus mercados específicos. Neste sentido, mesmo operações de bilhões de dólares no mundo têm sido aprovadas no Brasil, como as da Alcatel e Lucent, no setor de desenvolvimento de tecnologia para comunicações, e a da Arcelor-Mittal, do setor siderúrgico. Ambas foram aprovadas pelo Cade sem a imposição de condições.

O advogado José Del Chiaro disse que, ao realizar negócios em nível mundial, as grandes empresas fazem questão de incluir o Brasil. "Há uma reacomodação global e uma visão do Brasil como local que terá peso no futuro", afirmou Del Chiaro.

"O crescimento das fusões e aquisições é resultado de um efeito mundial que se reflete no Brasil", avaliou José Inácio Franceschini. Grandes empresas mundiais, diz ele, estão procurando reinvestir seus lucros na compra de novas companhias e o Brasil tornou-se um mercado importante.