Título: Aldo respalda articulação para tirar Marin antes da Copa
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2013, Política, p. A9

Uma ampla movimentação que envolve a integrantes da própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Fifa, e com respaldo do governo brasileiro, caminha para fazer com que o presidente da entidade, José Maria Marin, deixe o cargo antes do previsto e não seja seu dirigente durante a Copa do Mundo de 2014.

A ideia é que o próximo presidente da CBF escolhido nas eleições previstas para abril de 2014 assuma o cargo logo na sequência, e não apenas em janeiro de 2015, conforme previsto atualmente. Dois nomes despontam como possíveis sucessores: o presidente da Federação Paulista de Futebol e vice da CBF, Marco Polo del Nero; e o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanches. A sucessão seria também de todas as federações estaduais. Segundo fontes, Marin, Del Nero e Sanches sabem das movimentações. Tanto que Sanches recrudesceu recentemente as críticas a Marin.

A antecipação da saída de Marin permeou as rodas nesta semana na Suíça, durante a reunião do comitê executivo da Fifa. Segundo fontes, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, e o secretário-geral, Jérôme Valcke, puxaram a discussão com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo.

O sinal foi claro: estão desconfortáveis com sucessivos constrangimentos de Marin na presidência da CBF e do seu papel na organização da Copa, já que ele é automaticamente o presidente do Comitê Organizador Local (COL). E também com o inevitável destaque que ele terá se permanecer na função durante a Copa.

Apontam que Marin causa muita instabilidade na Fifa, na CBF e na organização da Copa. Exemplo recente disso foram as sequências de áudios que vêm sendo vazados na internet com conversas atribuídas ao dirigente da CBF. Em um deles, uma pessoa que supostamente seria Marin se irrita com interlocutores que estariam fazendo negociatas em seu nome com federações estaduais. Em outro áudio, Marin critica Aldo Rebelo, ao afirmar que o poder do ministro é limitado e que não tem liberdade com a presidente Dilma Rousseff. A CBF alega que há manipulação nos áudios.

Esse não é o único motivo de desconforto com Marin por parte do governo. Seu passado ligado à ditadura militar, quando Dilma foi combatente e torturada, pesa. Tanto que a presidente nunca o recebeu.

No Palácio do Planalto, a informação é de que ele nunca pediu oficialmente um encontro com Dilma e que a presidente só o receberia se fosse para algo de ordem prática. Não meramente para tirar fotografias, como deseja Marin. O governo, porém, nas conversas que tem sobre o assunto, deixa claro não ter interesse em entrar nos meandros da CBF e intervir na instituição. Avalia que se trata de uma instituição privada e que as consequências de uma interferência podem não ser boas.

Além disso, uma inédita intervenção o tornaria refém das suas condições daqui em diante e não se sabe quem está por vir a assumi-la. O favorito é um nome da continuidade, Del Nero. Mas Sanches é filiado ao PT e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Andrés seria o candidato da oposição, com um discurso baseado na gestão e transparência, que teria o Corinthians como modelo. No Congresso, já tem um apoio relevante. O presidente da Comissão de Esportes da Câmara dos Deputados, Romário (PSB-RJ), que recrudesceu os ataques à gestão de Marin e na quarta-feira chegou a pedir sua prisão.

Ontem, ele disse ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, que Sanches teria seu apoio hoje. "O que ele fez no Corinthians eu respeito. Está bem assessorado. Já conversei com ele e tem grandes ideias. Del Nero é o pior do que está aí. É o articulador de tudo na CBF", afirmou. A assessoria da CBF não respondeu ao pedido de informações do Valor e a de Del Nero informou que o dirigente negou a movimentação.