Título: PDT renova direção sem garantir apoio em 2014
Autor: Junqueira, Caio; Resende, Thiago
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2013, Política, p. A10

O PDT realiza hoje a convenção nacional sem qualquer garantia de que estará no projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Isso a despeito de ontem o partido ter concretizado sua antiga reivindicação, de substituir o filiado Brizola Neto por outro, Manoel Dias.

Na cerimônia de transmissão do cargo, o agora ex-ministro Brizola Neto sequer compareceu. A estrela oculta ali foi Carlos Lupi, apontado como injustiçado, e que será reconduzido hoje ao cargo de presidente nacional da legenda.

"O Lupi é presidente do partido. Não posso negar minha amizade porque alguém acha que ele errou. Eu acho que ele não errou. Acho que ele sofre uma injustiça muito grande. Os órgão fiscalizadores e de controle não têm nada contra ele", disse, Dias, após cerimônia.

Também hoje será divulgado um documento do partido com críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff. Ao menos quatro pontos serão mencionados: gargalos da infraestrutura; preocupações com o gerenciamento de estatais, como a Petrobras, e com a condução do BNDES; a necessidade de avanços na educação e o receio de que haja aumento na taxa de juros, conforme sinaliza o governo e o mercado.

Outro sinal de desalinhamento com o Palácio do Planalto é a situação de Brizola Neto no partido a partir da convenção de hoje. Atual vice-presidente da legenda, ele não participará nem da composição da nova executiva nacional.

O motivo é uma previsão estatutária de que só podem integrar a executiva os apoiadores da chapa vencedora. Brizola Neto tentou liderar um movimento para concorrer com Lupi, mas não conseguiu o número mínimo de apoiadores. Ele não deve ir ao evento. Ao nomeá-lo ministro em 2011, a intenção de Dilma era enfraquecer Lupi dentro do partido, no qual a presidente militou a maior parte de sua vida. Não só não conseguiu, como mesmo após ceder às pressões e nomear Dias no lugar de Brizola não conseguiu garantir o PDT em 2014.

Questionado sobre se a troca ministerial foi uma estratégia para as eleições de 2014, Dias afirmou que "até pode ser". Mas disse que o PDT está "no governo hoje em decorrência do apoio à presidente Dilma na eleição passada e 2014 é outra eleição". Se o partido se "sentir atendido, construir as políticas que deseja", "de repente, pode também sinalizar para apoio à presidente Dilma, mas isso nós vamos discutir no segundo semestre", declarou.

Ele informou ainda que irá nomear para a secretaria-executiva da Pasta Paulo Roberto Pinto, que exerceu o cargo durante a gestão Lupi. para o novo ministro, "ele é competente".

Sobre Brizola Neto, disse que ele se ausentou por motivo de viagem. Mas garantiu não haver divisão no partido, apenas divergências. Elas foram demonstradas na carta que o ex-ministro entregou para seu secretário-executivo, Marcelo Aguiar, ler no evento.

No texto, ele traça longos elogios aos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff e pede a manutenção do PDT no projeto petista e a união do partido. Apela que o partido se mantenha no projeto petista, já que setores do partido consideram a possibilidade de apoiar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na sucessão presidencial. "Nesse cenário altamente positivo para os trabalhadores, espero que agora essa participação aprofunde cada vez mais o compromisso com esse projeto", afirma Brizola no texto.

Depois, faz um pedido para que Dias promova a união no PDT. "Desejo ao novo ministro sucesso em sua gestão e, com base em sua história de luta e organização de nosso partido, tenha sabedoria de ser a argamassa que une as partes." Conclui com uma citação: "O verdadeiro vencedor não é o que derrota o adversário, mas o que o traz para suas fileiras". A tarefa é difícil. Na cerimônia de ontem, o líder do PDT na Câmara e presidente em exercício da sigla, André Figueiredo (CE), criticou a gestão de Brizola e disse que Dias "fará com que esse ministério voltar a ser grandioso."