Título: MDB/PMDB é principal matriz da Câmara
Autor: Felício, César e Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2007, Política, p. A12

O PMDB e seu antecessor MDB, são a principal matriz política da Câmara dos Deputados. Se não existisse a infidelidade partidária - fenômeno que faz com que 298 dos 513 deputados, equivalente a 58%, já tenham pertencido a outras siglas - seriam hegemônicos na Casa. Nasceram eleitoralmente dentro das duas siglas 120 dos 513 parlamentares. Destes, 49 nunca saíram do PMDB e três estão de novo no partido, depois de terem freqüentado outras siglas. O maior braço de emedebistas/pemedebistas ainda está no PSDB, produto de uma cisão partidária em 1988. Dos 58 tucanos, 18 pertenceram ao PMDB ou ao MDB. É apenas um deputado a menos do que o total de tucanos que nunca pertenceu a outro partido.

A Arena e sua longa seqüência de sucessores diretos (PDS, PPR, PPB e PP), que em 1977 se auto-denominou " o maior partido do Ocidente " hoje reuniria 74 deputados, ou um a mais que o PT, caso nunca tivesse ocorrido uma migração partidária na Câmara.

A vinculação do DEM ao berço arenista vai se tornando tênue. Dos 58 integrantes do DEM, 24 nunca saíram do antigo PFL e seis estiveram em outros partidos, mas têm gênese pefelista. Entre os 28 membros do DEM com origem em outras siglas, quatro vieram da Arena e seis do PDS.

O Rio Grande do Sul comprova a tradição de enraizamento partidário. É a bancada estadual que menos realizou migrações partidárias. De seus 31 parlamentares, 24 deputados, ou 77,4%, nunca pertenceram a outro partido. Os sete que mudaram, o fizeram uma única vez. O exemplo oposto é Roraima. Dos oito parlamentares, todos já fizeram troca, sendo que seis pelo menos quatro vezes.

Não há distinção de caráter ideológico ou do tamanho da bancada no fenômeno de troca de siglas. Descontando-se o P-SOL - criado no ano retrasado - o partido com proporcionalmente maior número de migrantes é o PPS, o sucessor do antigo Partido Comunista Brasileiro, seguido pelo PR e pelo PTB. O PT, o PCdoB e os nanicos PMN e PHS são os únicos em que a maior parte da bancada jamais esteve em outra agremiação. O levantamento não considera os partidos com apenas um parlamentar.

Dos 14 deputados do PPS, apenas um - Augusto Carvalho (DF) - é oriundo do velho PCB e jamais teve outra sigla. A bancada é de origem predominantemente conservadora. Dois de seus deputados vieram do berço da Arena, dois do PFL, um do PL e quatro do PMDB.

O PT está na posição oposta. De seus 82 deputados, nada menos que 67 nunca pertenceram a outra sigla. Entre os que vieram de fora, há um ex-arenista - Carlos Wilson (PE), um dos campeões de troca partidária na Câmara, tendo pertencido a outros quatro partidos - três vindos do PCdoB e seis do conjunto MDB/PMDB. Dos atuais 73 deputados que tiveram a sua origem política no petismo, apenas seis não estão no partido.

Produto de um inchaço recente e principal vítima da decisão do TSE que ameaça o mandato dos deputados que trocaram de partido, o PR mostra coerência no ajuntamento que promoveu. Dos seus 40 parlamentares, há cinco que sempre estiveram no PL ou no Prona, as legendas que se fundiram para formar o novo partido. Dos 35 restantes, a grande maioria é oriunda de siglas com militância longa em hostes governistas: seis entraram na política pelo PFL, quatro pela Arena, dois pelo PDS, dois pelo PPB e sete pelo PMDB.

Proporcionalmente, está no PR o maior contingente de parlamentares campeões de troca de sigla. Nove dos seus 40 deputados estiveram em pelo menos outras três legendas. O campeão de trocas partidárias da Câmara é o republicano paranaense Airton Roveda, que, em 16 anos, foi do PMDB ao PR, passando por PDT, PFL, PSDB, PTB, novamente o PMDB, mais uma vez o PTB e PPS. Roveda jamais disputou duas eleições pela mesma sigla.

Em termos absolutos, o maior contingente de nômades está no PMDB, onde 10 dos 91 deputados fizeram pelo menos quatro trocas de sigla. O primeiro posto é dividido entre o quase ministro da Agricultura Odílio Balbinotti (PR) e o paraibano Wilson Braga, cada um com seis mudanças.

Das siglas alinhadas à esquerda, o PSB é a que reúne o maior número de parlamentares instáveis. Dos 29 socialistas, apenas nove não conheceram outro partido. Entre os 20 com outras origens, cinco freqüentaram ao menos outros três partidos, entre eles Ciro Gomes (CE), com cinco trocas partidárias.