Título: Encontro reacende dúvidas sobre futuro de Serra
Autor: Di Cunto, Raphael; Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2013, Política, p. A10

Insatisfeito no PSDB por se sentir alijado das decisões do partido, José Serra esteve esta semana com o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, potencial candidato à Presidência da República. A assessoria do governador confirmou o encontro.

O encontro alimentou especulações de que Serra conversa com Campos para dar palanque ao pernambucano em São Paulo, onde o PSB é fraco, e poderá deixar o PSDB, que deve ter como candidato o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

O comportamento instável de Serra tem desnorteado o PSDB paulista, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e mesmo tucanos próximos do ex-governador. Dizem que sequer é possível cravar o que Serra de fato quer: reclama constantemente que a sigla toma decisões sem consultá-lo, mas não deixa claro que espaço pretende ter na nova direção partidária.

Um episódio ilustra a dificuldade do PSDB em lidar com Serra: ao saber que o diretório paulista convidara Aécio para dar uma palestra em sua sede, Serra ligou irado para Alckmin, reclamando que tal agenda fora confirmada sem seu consentimento. O governador então sondou a cúpula do diretório estadual sobre a possibilidade de adiar o evento. Foi preciso que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entrasse no circuito para garantir a realização da palestra no dia 25.

A aproximação de Campos com Serra foi criticada ontem por dirigentes do PT. "Campos está fazendo o caminho inverso ao [da história] da política de Pernambuco, de inclinação de centro-esquerda. O fato de [Campos] sair da trajetória histórica dele, da família dele e da tradição do Estado para vir se agarrar a José Serra em São Paulo é demais para a minha cabeça", ironizou o coordenador da corrente Construindo um Novo Brasil, majoritária no PT, Francisco Rocha da Silva, o "Rochinha".

"Na política, Campos não tem limite para chegar a algum lugar", disse Rochinha, lembrando da aproximação do governador de Pernambuco ao ex-rival senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Rochinha avaliou ainda que em muitos Estados o PSB "está mais para a direita" no campo ideológico.

Para o secretário-geral do PT, deputado federal Paulo Teixeira (SP), ainda "há chances" de Campos não ser candidato em 2014 contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff. "Dificilmente ele vai conseguir viabilizar sua candidatura", afirmou.

O petista cita a aprovação de 85% de Dilma no Nordeste, segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada terça-feira, ao falar sobre as dificuldades eleitorais de Campos. "O voto nordestino é petista, dilmista. A pesquisa foi muito boa, mostra isso. O eleitor nordestino não vai entender Campos em oposição a Dilma. Isso é muito difícil de entender", disse.