Título: Caça de talentos para países emergentes aquece o mercado
Autor: Campos, Stela
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2007, EU & Investimentos, p. D6

As empresas de seleção de altos executivos comemoraram em 2006 o quarto ano consecutivo de crescimento em seus balanços. As vinte maiores companhias do setor com operações globais, faturaram, juntas, US$ 3,6 bilhões. Mesmo com o crescimento moderado da economia americana, que costumar ditar as tendências nesse mercado, a indústria de "executive search" ganhou novo impulso com o aumento da procura por executivos em economias emergentes, como na China e na Índia.

"Isto é o que está dirigindo grande parte da indústria que procura talentos pelo mundo agora", disse Matthew Wright, 42 anos, CEO e presidente da Russell Reynolds Associates, em entrevista exclusiva ao Valor. Ele esteve em São Paulo para comemorar os dez anos da empresa no Brasil. Para ele, levar talentos dos países desenvolvidos para novos mercados, como o chinês, tem sido o grande desafio para os headhunters. A Russell Reynolds Associates é a quinta maior empresa do setor, segundo ranking da "Kennedy Information and Firms", com um faturamento de US$ 430,6 milhões no ano passado. Na América Latina, o grupo está presente no Brasil, México e Argentina. A seguir alguns trechos da entre vista:

Valor: Quais setores estão puxando as contratações de executivos hoje no mundo?

Matthew Wright: Eu não responderia do ponto de vista de um setor da indústria em particular, mas do ponto de vista do mercado. A incrível dinâmica criada pela Índia, China, Brasil, América Latina em geral, explica muito do que está acontecendo. Se você olhar os investimentos que estão saindo da Ásia agora. Se pegar Índia e China, que sempre são importantes, a exportação do valor criado e a dinâmica dessa criação, tudo isso é espetacular. É essa dinâmica que eu acho mais excitante, pessoas saindo dos mercados desenvolvidos para atuar em mercados emergentes. Isto é o que está dirigindo grande parte da indústria que procura talentos pelo mundo agora. Se você olha a China, por exemplo, eles precisam de expertise de fora para ajuda-los a desenvolver tanto as multinacionais como as companhias locais.

Valor: Algumas indústrias devem estar liderando essa busca de talentos.

Wright: Existem sempre pontos quentes em todos os mercados. É muito difícil apontar um, porque ele estará relacionado com o momento atual. Se você olhar algumas indústrias que cobrimos como serviços financeiros e private equity, elas estão explodindo. Gestão de fortunas e de recursos de terceiros em bancos de investimentos também estão em alta. A área de fusões e aquisições também tem feito uma grande busca no mercado. Na área de consumo, o destaque são os bens de luxo. Estamos fazendo um bom trabalho no que chamamos de práticas de produtos de luxo. Outras coisas, como a área de hospitalidade na Malásia, também estão contratando. No mundo da indústria, as áreas relacionadas com transporte pesado e defesa estão bem aquecidas. Em tecnologia, a procura é maior na indústria de software e telecomunicações.

Valor: Que tipo de executivo as empresas estão procurando?

Wright: Eu acho que o executivo moderno fala várias línguas, alavancou seu trabalho internacionalmente, se sente confortável em diversos setores e práticas, tem traquejo administrativo para liderança e habilidades técnicas. Todo mundo sabe que ele tem que ter um pouco de tudo isso para funcionar.

Valor: De qual setor vem a maior parte de seus negócios hoje?

Wright: Eu diria que 25% do nosso trabalho vem de serviços financeiros, 25% de tecnologia, 20% da indústria, 20% de consumo e saúde. Outra área extremamente aquecida no momento é a de CFOs (Chief Financial Officers), a que chamamos de práticas funcionais. Eles são profissionais altamente qualificados e muito disputados hoje.

Valor: Como o senhor vê o setor de "executive search" atualmente? O que mudou?

Wright: Se você olhar a indústria de recrutamento de executivos nos últimos dez anos, verá que a dinâmica e a motivação do mercado mudaram extraordinariamente. Naquele tempo não existiam empresas abertas. Toda cultura da indústria era voltada às transações. Eu posso falar sobre a Russell Reynolds. Eu digo que há seis anos sentimos um empurrão para tentarmos criar um relacionamento que aproximasse o "executive search" e o "assessment" (avaliação). Eu acho que esta é uma dinâmica nova. A qualidade das pessoas também mudou muito. Eu estou na indústria há 21 anos e se compararmos o tipo de profissional que entra na indústria hoje veremos que são muito diferentes. A dinâmica da indústria mudou.

Valor: O que mudou em relação ao perfil dos headhunters?

Wright: Acho que os clientes se sofisticaram e esperam muito mais da nossa indústria. Eles esperam encontrar conselheiros. Querem contar com uma consultoria sobre práticas e setores, querem um expertise industrial. E para fazer isso precisamos de pessoas diferentes do que tínhamos nessa indústria há 15 anos.

Valor: Qual a formação ideal para um headhunter hoje?

Wright: Tenho duas respostas para isso. O que faz um bom headhunter como indivíduo são muitos traços de seu caráter como sensibilidade, humildade, intuição, habilidade para escutar, olhar. Essa é uma parte da resposta. Outra é qual o background ideal. Ele deve frequentar as melhores escolas, ter um MBA e atuado por 4 ou 5 anos em uma empresa de qualquer área antes de entrar no mercado de seleção de executivos.

Valor: Eu vejo pessoas antigas do setor com uma formação mais ligada à área de ciências humanas. Hoje isso mudou?

Wright: Não acho. Se você olhar para o nosso quadro temos pessoas com backgrounds muito diferentes. Temos psicólogos, engenheiros. Acho que depende de como as pessoas conduziram a carreira.

Valor: Qual a sua formação?

Wright: Eu tenho um perfil pouco usual. Me formei em direito e entrei direto nessa área há 21 anos. Sou veterano desse jogo. Entrei nessa empresa há 15 anos. Passei um tempo na Ásia em outra firma. Entrei na Russell Reynolds para comandar as práticas financeiras na Europa em 1998. Em 2004, passei a responder pela Europa e Ásia. Também fui do comitê executivo por dez anos.

Valor: Quais são os planos da companhia para o Brasil?

Wright: Temos muito orgulho de nossos negócios no Brasil e na América Latina. Temos três escritórios: um em São Paulo, outro em Buenos Aires e um na Cidade do México. Os nossos maiores negócios são feitos em São Paulo. Eu acho que temos uma aproximação fantástica e posso ver muitas coisas boas para a região. Precisamos desenvolver nossa massa crítica e quando conseguirmos isso pensaremos em aumentar nossa presença na America Latrina.

Valor: Quanto a região latino-americana representa nos negócios da Russell Reynolds?

Wright: Nós temos um esquema onde centralizamos o nosso lucro, tudo é depositado e sai do mesmo pote. Não dividimos desta forma. O que posso dizer é que a influência do Brasil é grande na nossa firma, ele é um dos escritórios mais bem sucedidos.