Título: Nordeste, antiga Varig, espera injeção de recursos
Autor: Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2007, Empresas, p. B1

A Nordeste (antiga Varig), empresa que continua em recuperação judicial, precisará de um aporte de R$ 40 milhões para se manter até setembro, quando deve voltar a operar. Segundo apurou o Valor, o dinheiro será usado como capital de giro e faz parte do plano de negócios apresentado na sexta-feira pelo gestor da Nordeste, Miguel Dau, aos juízes que acompanham o processo de recuperação judicial da companhia.

Até mesmo o nome Nordeste, segundo uma fonte presente ao encontro, poderá ser trocado. A empresa tem realizado estudos de mercado para a escolha de uma nova marca.

A idéia é que a Nordeste opere inicialmente com quatro aviões para rotas alternativas às da Gol e da TAM nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Em uma segunda etapa, entrariam mais duas aeronaves.

A companhia já negocia o leasing dos primeiros aviões. No entanto, ainda depende do Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta), emitido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), para começar a voar.

A expectativa de Dau é de que o documento seja liberado em 30 dias. Mas antes mesmo de começar a fazer vôos regulares, a empresa pretende operar vôos charter no Brasil e no exterior.

O aporte extra de recursos é fundamental para a sobrevivência da Nordeste, uma vez que os compromissos financeiros assumidos pela "nova" Varig, comprada pela Gol na semana passada, não têm sido suficientes para manter as operações da companhia no dia-a-dia.

A expectativa dos executivos da Nordeste é de que a Gol faça o aporte do recurso para evitar riscos de sucessão fiscal e trabalhista. Advogados ouvidos pelo Valor defendem que o risco de a Gol herdar um passivo da ordem de R$ 7 bilhões aumentaria com a falência da Nordeste.

A empresa tem se mantido nos últimos meses, segundo Dau, com receitas de recebíveis de cartões de crédito de passagens utilizadas antes do leilão, do aluguel de imóveis, do centro de treinamento operacional e das estações de rádio que pertencem às empresas em recuperação judicial.

O problema é que parte desses recursos deixará de entrar no caixa da empresa nos próximos meses, o que dificultará ainda mais a situação da Nordeste, que tem registrado rombos mensais entre R$ 1 milhão a R$ 3 milhões.

"Não teremos condições de operar sem um aporte de recursos. As receitas mensais não são suficientes. Se nós começarmos a voar em setembro, as operações só começarão a ser rentáveis em fevereiro. Precisarei de capital de giro", disse Dau, que também conta com a liberação de R$ 5,5 bilhões em créditos que a Varig tem a receber dos Estados e da União para sanear o caixa da companhia.

O plano de recuperação judicial da Varig prevê que 70% da receita líquida mensal da companhia seja transferida para uma sociedade de propósito específica (SPE), ainda a ser criada para o pagamento aos credores.

Outros 30% ficarão no caixa da companhia para cobrir custos mensais e investimentos. Dau pretende ainda encaminhar uma proposta aos credores reduzindo a percentagem de 70% para 50%, na tentativa de aliviar o caixa da empresa.

Procurada pelo Valor no início da noite de sexta-feira, a Gol informou que não havia nenhum executivo da empresa disponível para comentar a questão envolvendo a Nordeste.