Título: PF investigará empréstimo de R$ 37 milhões do BNDES
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2007, Empresas, p. B8

A Polícia Federal do Paraná vai investigar, a pedido do Ministério Público Federal, possíveis irregularidades na concessão de financiamento do BNDES, no valor de R$ 36,9 milhões, para a Brasil & Movimento, fabricante de bicicletas e motos da marca Sundown. Trata-se da primeira apuração que envolve diretamente a empresa na operação Pôr-do-sol, que em junho de 2006 levou à prisão dez pessoas, entre elas os uruguaios Isidoro e Rolando Rozenblum, por dívidas fiscais de R$ 150 milhões. Os dois são, respectivamente, filho e neto do controlador da Brasil & Movimento, Jaime Rozenblum, imigrante polonês de 96 anos.

Esse é apenas um dos 38 inquéritos abertos pela PF desde fevereiro. Pai e filho já foram condenados por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e evasão de divisas, em sentença do juiz Sergio Fernando Moro, da 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba, proferida em novembro. A direção da Brasil & Movimento sustenta que a empresa não tem vínculo, porque os dois não são mais sócios da empresa.

Não é o que pensa o delegado Wagner Mesquita de Oliveira, chefe da delegacia de crimes contra o patrimônio, que comandou a operação e ficou responsável pela abertura dos novos inquéritos. "Eles tinham, na época da prisão, vínculos administrativos com a Brasil & Movimento", afirma. "Há provas disso, que não podem ser expostas porque correm em segredo de justiça." Os procuradores que integram a força-tarefa CC5, do Ministério Público Federal, têm a mesma opinião. "Foram feitas inúmeras mudanças societárias no Grupo Sundown e levam à conclusão de que há vínculos entre a família investigada e a Brasil & Movimento", disse um deles ao Valor. Há informações de que os dois participavam de reuniões na empresa durante as investigações.

O contrato com o BNDES foi assinado em outubro de 2005 e o valor dividido em 12 prestações. A primeira venceu em novembro. Procurado, o BNDES disse que não foi informado sobre o inquérito e acrescentou que a operação é segura porque tem fiança bancária.

Pouco antes da prisão de Isidoro e Rolando, a Brasil & Movimento planejava lançar ações, mas abortou o processo sob a alegação de que iria aguardar a recuperação do mercado. Em agosto, a empresa teve os bens bloqueados pelo juiz federal José Sabino da Silveira, da 3ª Vara de Execuções Fiscais de Curitiba, que deferiu liminar em medida cautelar fiscal ajuizada pela Fazenda Nacional. Ele tornou indisponíveis os bens de Isidoro, de esposa Noemi e dos dois filhos, Rolando e Karina, além dos bens de Jaime e mais 20 empresas do grupo, para assegurar o recebimento de créditos tributários de R$ 55 milhões.

Com o desdobramento das investigações, o Ministério Público chegou a outros nomes. Dois dos 38 inquéritos envolvem o ex-funcionário da Merrill Lynch Representações, Alexandre Caiado, que ficou preso cinco dias. Procurada, a Merrill Lynch não fala sobre o assunto. Segundo o delegado da PF, o banco não está sendo investigado, apenas Caiado, que trabalhava na instituição quando detido.

Os outros 35 inquéritos vão apurar mais crimes praticados pelos Rozenblum e por empregados de empresas comandadas por eles, além de doleiros e auditores da Receita Federal. Em duas condenações, Rolando já acumula 19 anos e oito meses de reclusão. Isidoro acumula 14 anos e oito meses. Mas cabe apelação contra as sentenças.

As investigações contra a família Rozenblum e a Sundown são antigas. Segundo dados da Justiça Federal do Paraná, a fabricante foi fundada em Curitiba em 1994 e ia bem, com faturamento superior a R$ 100 milhões e 20% de participação no mercado de bicicletas. Entre dezembro de 1996 e junho de 1997, os empresários fizeram 146 importações irregulares e tiveram 50 contêineres apreendidos no porto de Paranaguá. Destes, 35 estavam em nome da empresa Santa Edwiges, registrada em nome de laranjas. Depois disso a família teria praticado crimes por meio de outras empresas e feito remessas ilegais de dinheiro para o exterior.

Em 1998 Rolando e sua mãe, Noemi Elpern, entraram na SWN Participações e, junto com a CCE Investimentos e a CR Participações, formaram a Companhia Brasileira de Bicicletas. Em setembro de 2005 ela passou a se chamar Brasil & Movimento.

No prospecto de lançamento de ações da Brasil & Movimento, consta que Karina e Rolando já foram acionistas da SWN, que era dona de 100% do fundo Tophill, controlador da Brasil & Movimento. Em 2005 o avô comprou as cotas da neta, que vendeu a marca Sundown por R$ 9,6 milhões. O objetivo da oferta de ações era vender a maior parte da participação de Jaime e, com isso, a família Rozenblum sairia de vez da empresa.

O Valor tentou diversas vezes falar com Jaime, sem sucesso. Na empresa que a família possui no Uruguai, a Motociclo, informaram primeiramente que ele estava em férias em Israel. Noutra ocasião, que ele era muito idoso e não iria dar entrevistas. Durante investigações, o MP apreendeu papéis em branco assinados por ele. (ML)