Título: Brasil de olho nos EUA para misturar etanol com diesel
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2007, Agronegócios, p. B13

Entidades e institutos de pesquisa brasileiros avaliam "importar" dos Estados Unidos uma tecnologia estudada há sete anos pela Universidade de Illinois e que torna viável a produção de outro combustível alternativo: o e-diesel. O biocombustível é produzido a partir de uma mistura de 15% de etanol e 0,5% a 3,5% de aditivo no diesel.

Peter Goldsmith, diretor-executivo do Laboratório Nacional de Pesquisas de Soja da Universidade de Illinois (EUA) e um do coordenadores do estudo, diz que o e-diesel oferece como vantagens a redução do índice de emissões de óxido de nitrogênio (um dos causadores do efeito estufa) e emite até 40% menos partículas na atmosfera que o diesel. "O efeito ao meio ambiente é melhor inclusive que o B20 [mistura de 20% de biodiesel no diesel]", diz.

No entanto, foram os custos da nova tecnologia que desestimularam o lançamento do produto no mercado americano. Conforme Goldsmith, o e-diesel custa de 2 a 3 centavos de dólar a mais que o diesel. "Enquanto o custo de produção do milho nos EUA é de US$ 0,30 por litro, no Brasil o custo é de US$ 0,22. Mesmo com toda essa febre, o etanol nos Estados Unidos ainda é mais caro que o diesel, em torno de 9,7%".

Já no Brasil ocorre o contrário. Em Rondonópolis, por exemplo, enquanto o etanol é vendido a R$ 1,40 por litro, o diesel não sai por menos de R$ 2 o litro. A diferença animou João Martines Filho, pesquisador do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq/USP, que participou do estudo em Illinois. Na sexta-feira, os pesquisadores se reuniram com entidades de produtores e representantes do governo para avaliar a possibilidade de implantar a tecnologia no Brasil.

"O e-diesel resolveria o problema do álcool no Mato Grosso, por exemplo, que fica longe das distribuidoras e por isso há dificuldade de venda de cana para outros Estados", afirma Martines. O único fator limitador, segundo ele, é o fato de que o etanol, a uma temperatura inferior a 10 ºC, separa-se do diesel. "Em Estados mais frios a produção é mais complicada, mas no Centro-Oeste é difícil se chegar a essa temperatura".

Nos EUA, reitera Goldsmith, o foco das pesquisas são, em ordem decrescente de importância, o etanol de milho, o biodiesel e o etanol ligno-celulósico a partir do capim elefante que, segundo ele, tem quase o mesmo rendimento que a cana-de-açúcar. "Só não pensamos em adotar cana lá porque temos pouquíssima área disponível com calor e água suficientes para garantir boa produtividade", observa.

A jornalista viajou a convite da Fundação MT