Título: Aeronáutica dá explicações, mas oposição quer CPI
Autor: Basile, Juliano e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2007, Brasil, p. A4

O comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Juniti Saito, chamou ontem o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o líder da minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS), para um almoço. No encontro, o comando militar não falou abertamente, mas procurava estabelecer um canal de interlocução com o parlamento de olho na CPI do Apagão Aéreo e na medida de desmilitarização do controle de tráfego aéreo proposta pelo Palácio do Planalto.

Todo o comando da Aeronáutica participou do encontro com Redecker e Chinaglia. Durante o almoço, os militares informaram aos dois deputados que não há qualquer problema de equipamentos no espaço aéreo brasileiro. Tentaram dizer também que não há sobrecarga de trabalho dos controladores de tráfego aéreo nem falta de treinamento aos funcionários da área, mas mostraram-se favoráveis à idéia de descentralizar o controle do tráfego para desafogar os aeroportos de São Paulo e Brasília.

Os militares não tocaram no tema da CPI do Apagão. Nem explicaram porque há uma crise aérea. Também não citaram a medida provisória a ser enviada amanhã pelo governo federal que prevê a desmilitarização do controle aéreo. Apesar disso, ficou o sentimento de que a Aeronáutica procura uma aproximação com o Congresso Nacional para tentar ter poder de lobby nessas questões.

Em um dado momento da conversa, por exemplo, os comandantes fizeram uma defesa aberta da permanência do controle aéreo dentro do âmbito da Aeronáutica ao comparar o sistema brasileiro ao dos Estados Unidos.

Os comandantes disseram que os americanos têm um sistema com controladores civis para aviões civis e militares para a defesa nacional. Na avaliação deles, se o controle fosse todo feito pela Marinha americana (nos Estados Unidos, marinha e aeronáutica são uma só instituição), os atentados de 11 de Setembro poderiam ter sido evitados. "Eles disseram que os militares poderiam detectar o seqüestro dos aviões antes e teriam agido", revelou Redecker.

Sobre a desmilitarização, o comando da Aeronáutica tem no líder da minoria um aliado. "Sou contra. Não é esse o caminho. O presidente Lula teve quatro anos para tratar do tema. É uma seleção de atos de incompetência e não é a desmilitarização que vai sanar a crise aérea", disse. Chinaglia também indicou que o lobby surtiu efeito. "Muitas questões foram elucidadas. Ressalto agora bem mais a responsabilidade direta dos controladores (na crise)", disse ele.

O vice-líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), pensa diferente. "Sou a favor da decisão do presidente Lula. Alguns até acham que ele demorou para tomá-la", disse o deputado. "O entendimento do governo é de que é preciso tirar esse tema das Forças Armadas para que elas se preocupem apenas com a Defesa Nacional sem ter sua estabilidade afetada por crises como essa", completou. (TVJ)