Título: Acordo para destravar Rodada Doha sai em 30 dias, afirma Lula
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2007, Brasil, p. A6

Brasil e Estados Unidos devem entrar em acordo, nos próximos 30 dias, sobre uma proposta para destravar a rodada de negociações comerciais na organização Mundial do Comércio (OMC), a chamada Rodada Doha, anunciou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu programa "Café com o Presidente". O compromisso foi assumido pessoalmente pelo presidente dos EUA, George W. Bush, durante a visita do presidente brasileiro a Washington, no fim de semana, afirmou Lula.

"O presidente Bush disse ... na reunião comigo, pessoalmente, que nesses próximos 30 dias nós deveremos fechar o acordo", contou Lula. "Eu ainda vou ligar para o (primeiro-ministro da Inglaterra) Tony Blair, a chanceler (da Alemanha) Angela Merkel, esta semana para conversar um pouco sobre o resultado da conversa que tive com o presidente Bush", informou, ao afirmar que quer "preparar", para concluir as negociações da Rodada Doha, os parceiros da União Européia, dos EUA e do G-20, grupo de países em desenvolvimento.

Mais tarde, após a reunião ministerial, Lula comemorou a "parceria de alto nível" com Bush e afirmou considerar como ponto alto da visita o "compromisso formal" do americano com a apresentação, em 30 dias, de "propostas para destravar a Rodada Doha".

Também satisfeito com os resultados da visita de Lula aos EUA, e pela classificação das relações bilaterais, pelo governo americano, como um "diálogo estratégico", o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, foi mais pragmático ao falar de prazos. Apesar de classificar o prazo de 30 dias como uma "excelente referência", Amorim lembrou que ainda não há garantias de acordo entre os diversos membros da OMC, embora veja forte compromisso dos presidentes do Brasil e dos EUA em chegar a um consenso sobre os rumos a tomar, até o início de maio.

As próximas semanas serão de intensas negociações, informou Amorim, que espera ter avanços importantes durante encontro que manterá em Nova Déli, na Índia, com negociadores da Índia, EUA e União Européia. Um acordo apenas entre Brasil e EUA, sem participação dos outros sócios da OMC, teria reduzida importância, alertou, ao comentar a necessidade de se chegar a uma posição comum no grupo mais restrito de países, conhecido como G-4, e, logo depois, negociar essa posição com os outros países integrantes da OMC.

"É como um concerto a quatro mãos, não pode ser tocado com uma mão só, e esse exige 150 mãos", comparou, em referência aos 150 países sócios da organização. Para Amorim, se forem bem-sucedidos os encontros entre ministros e negociadores técnicos, será possível chegar, no início de maio, a propostas capazes de permitir o acordo na OMC.

Amorim apontou os acordos de cooperação firmados com os EUA para cooperação em quatro países da América Central e Caribe como uma demonstração de confiança no Brasil e das vantagens, para o continente, da aliança entre os dois governos. Lula obteve de Bush a garantia de que o presidente americano buscará, no Congresso dos EUA, aprovar a extensão dos programas de importação sem tarifas para produtos da Bolívia, Equador e Peru.

Amorim criticou a pressa do governo da Venezuela para constituição do Banco do Sul, "Às vezes as coisas feitas com muita pressa podem ter impacto grande, mas uma duração muito menor", comentou, ao defender "tempo" para que os ministros da região resolvam questões difíceis na criação do novo banco, como a fonte dos recursos para financiar as operações. O governo brasileiro tem interesse em um Banco do Sul, mas faltam definições sobre o formato da instituição, avalia Amorim.