Título: G-8 debaterá combate ao desmatamento
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2007, Brasil, p. A6

A Alemanha quer que o G-8, espécie de diretório econômico do planeta, aprove assistência financeira para o Brasil e outros países em desenvolvimento combaterem o desmatamento das florestas. A chanceler Angela Merkel espera marcar sua presidência no G-8 com forte liderança na limitação do aquecimento climático. Para isso, fez a União Européia assumir compromissos ambiciosos e colocou o tema no centro da agenda da cúpula de junho na Alemanha.

O governo alemão convidou o Brasil e outros países quatro emergentes - China, Índia, México e África do Sul - para reunião conjunta com Estados Unidos, Japão, Grã-Bretanha, Itália, França, Canadá e Rússia, onde a pressão será forte por compromissos na área climática.

Segundo o britânico Nicholas Stern, que publicou relatório sobre o clima em 2006, as nações ricas deveriam financiar cerca de US$ 15 bilhões extras por ano para ajudar na preservação das florestas. O Brasil já propôs a criação de um fundo internacional para os países industrializados financiarem o combate ao desmatamento.

O país é o quarto maior emissor de gases de efeito-estufa do mundo, basicamente por causa do desmatamento na Amazônia. O governo diz que gastou US$ 160 milhões nos últimos dois anos no combate ao desmatamento. Segundo fonte do governo alemão, uma das idéias no G-8 será aprovar assistência financeira através do Banco Mundial. Ocorre que o banco empresta, mas o Brasil quer é doação nesse caso. Já os EUA recusam-se a reconhecer a "responsabilidade dos países industrializados" por ajuda financeira aos países em desenvolvimento.

No G-8, o governo alemão espera obter pelo menos um compromisso ambiental, que impulsione uma grande conferência das Nações Unidas sobre aquecimento climático, marcada para dezembro, na Indonésia. No entanto, um acordo por parte dos grandes poluidores globais, como Estados Unidos, China e India, por um novo tratado pós-Kyoto em 2012, parece complicado.

De um lado, o governo alemão quer compromissos obrigatórios de limitação de emissões. Já os Estados Unidos só aceitam combate "voluntário". Analistas também acham difícil que um futuro presidente democrata se comprometa com obrigações ambientais, diante da pressão interna da indústria.

Sem a China, um acordo tampouco faz sentido. Pequim admite cortar suas emissões, mas somente em 2030. Quanto ao Brasil, a expectativa em Berlim é que sua contribuição no combate ao aquecimento climático global seja mais proteção da Amazônia.

Para o G-8, o grupo emergente representa a próxima geração de potenciais doadores. O Brasil está numa situação intermediária, porque tanto dá ajuda como recebe do exterior. Já a China deu ajuda ao desenvolvimento de US$ 2 bilhões no ano passado. A Índia desembolsa US$ 1 bilhão por ano. Agora, o que o G-8 quer é pressionar esses emergentes a darem ajuda com base em critérios que eles dizem respeitar, como boa governança ou economia liberal dos países beneficiados.