Título: Meta para risco-país em 100 pontos marca 1ª reunião ministerial
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2007, Política, p. A11

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, na primeira reunião da nova equipe ministerial, ontem, no Palácio do Planalto, que, em breve, o risco-país estará entre 100 e 110 pontos, ante os 167 atuais. Disse ainda que aproveitará a viagem aos Estados Unidos, no final deste mês, para reclamar com as agências de rating, que concedem o investiment grade aos países mais seguros para receber investimentos estrangeiros. "Eles estão subestimando nossa capacidade", disse Mantega, segundo relato do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins.

O atual risco-país é o menor da história brasileira. Na campanha eleitoral de 2002, por causa do risco PT - o medo dos mercados diante da iminente vitória de Lula na campanha presidencial - esse índice passou dos dois mil pontos. Lula avisou aos ministros que o esforço feito no início do governo para controlar esta crise não foi em vão e tampouco será abandonado, apesar do bom momento vivido pela economia hoje.

"Em 2003 o governo tomou a decisão de gastar seu capital político para ordenar o país. Valeu o sacrifício, a transfusão de sangue deu certo. Mas não dá para gastar, vamos manter a sobriedade. Não vamos soltar as rédeas", conclamou Lula.

Dentro do discurso de responsabilidade fiscal, coube ao titular do Planejamento, Paulo Bernardo, avisar aos ministros que o tempo de polpudos reajustes salariais para o funcionalismo público acabou. De acordo com Bernardo, os aumentos salariais concedidos em 2005 e 2006 foram importantes para reestruturar as carreiras federais, mas pediu aos seus colegas de Esplanada esforço para aprovar a proposta contida no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - reajustes com base na inflação mais 1,5%.

"Essa batalha política será fundamental para o sucesso do governo. A proposta é razoável, mantém a recuperação salarial dos servidores", defendeu Bernardo. Segundo relato de Franklin Martins, Lula reforçou o discurso de Bernardo, lembrando que, durante o primeiro mandato, as reivindicações salariais vieram mais por intermédio dos ministros do que pelas centrais sindicais.

A chefe da Casa Civil, ministra Dilma Roussef, expôs aos ministros o andamento das obras contidas no PAC. Segundo ela, dentro de duas semanas será apresentado um relatório parcial das 50 principais obras de infra-estrutura. A ministra, no entanto, assegurou que 74% delas estão com um desempenho de execução considerado adequado; 17% precisam de atenção e 9% estão abaixo do esperado. "Estas últimas passarão a receber uma atenção especial por parte do governo", assegurou Franklin Martins.

Lula também aproveitou o primeiro encontro da nova equipe ministerial para dar recados políticos claros para ministros novos e antigos. Disposto a colocar um ponto final no "fogo amigo" que permeou todo o primeiro mandato, Lula foi explícito ao proibir que um ministro critique o outro publicamente. Para evitar mal entendidos, como, por exemplo, as críticas à "política do Palocci" no primeiro mandato, disse ainda que "não existem políticas de ministro, existem políticas de governo. Podem ser boas ou podem ser más, mas são políticas de governo".

Diante de um ministério heterogêneo, dividido entre dez diferentes legendas, Lula sugeriu que o espírito de coalizão deve permear também a montagem do governo. Mesmo sem utilizar claramente a expressão "porteira fechada", o recado do presidente, de acordo com Franklin, "é de que consideraria saudável que técnicos de diversos partidos compusessem os escalões inferiores dos Ministérios". O mais preocupado com isto é o partido do presidente, o PT, que não quer perder os cargos de segundo e terceiro escalões que ocupa emministérios cujo titular é de outro partido.

O novo ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia, tocou em outro ponto nevrálgico nas relações institucionais durante os primeiros quatro anos de governo Lula: a dificuldade dos ministros de receber parlamentares aliados para audiências. Mares Guia chegou a sugerir a repetição de uma técnica adotada por ele: que seus colegas de Executivo fossem com regularidade ao Congresso, despachar com aliados na liderança do governo nas respectivas casas - Câmara e Senado. Os líderes do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE) e no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) reforçaram o pedido.

O ministro da coordenação também sugeriu, para melhorar a execução orçamentária dos Ministérios, que técnicos ligados a cada pasta orientem os parlamentares a apresentar emendas, para que a liberação de recursos fique mais fácil.