Título: Depois de 47 anos, companhia busca a sua reinvenção
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2007, Empresas, p. B4

Um grande negócio, ou quem sabe, mais uma experiência difícil. O currículo que a Promon alimenta há 47 anos deixa claro que a empresa está pronta para lidar com o sucesso de uma nova empreitada, ou a frustração com um negócio que não vingou. Isso explica parte da prudência com que o presidente da Promon, Luiz Ernesto Gemignani, mede suas palavras. "Não entramos em um negócio por aventura, ou oportunismo. Mas é claro que essa vocação empreendedora está no DNA da empresa".

A mesma inflexão é visível nas colocações feitas pelo diretor da Promon, Paulo Fragelli, um dos 11 funcionários que, no turbulento ano de 1964, decidiu comprar a companhia, que em seguida foi pulverizada entre seus funcionários, modelo em atividade até hoje. "Os americanos se assustaram e decidiram sair do Brasil. Nós nos organizamos e compramos a empresa. Tínhamos um pouco de socialismo utópico", brinca.

O negócio pegou. Nos anos 70, a Promon viveu o que Fragelli define como "os anos dourados" da engenharia. "Foi o período das grandes obras, do país do futuro." Naquela década, a Promon viu seu tamanho se multiplicar por dez. Em 1986, já tinha 4,6 mil funcionários trabalhando apenas com engenharia. "Então veio o Plano Cruzado e o Brasil quebrou", resume Luiz Gemignani.

A Promon ruiu junto. Com o setor de engenharia em crise, cortou radicalmente seu efetivo e enxugou as bases internacionais, ficando apenas no Brasil. Áreas como a de projetos nucleares, que tinham 600 engenheiros, deixaram de existir de um dia para o outro. De quase 5 mil funcionários, passou a ter 1,8 mil.

A saída foi o mercado de telecomunicações, então impulsionado pelas compras do governo, que preparava o terreno para privatizar. Em três anos, lembra Gemignani, o orçamento do Sistema Telebrás saltou de US$ 2 bilhões para US$ 6 bilhões. Nessa época, os serviços de telecom já representavam 90% do faturamento da Promon, que no final dos anos 90 atingia US$ 1 bilhão em faturamento. "Tudo ia bem, corríamos a 300 por hora, até notarmos um muro na nossa frente, chamado privatização."

Com a entrada das operadoras multinacionais no país, os contratos com fornecedores locais foram varrida do mapa, lembra o executivo. A Trópico, uma sociedade firmada com a Cisco e o CNpQ, que já faturava US$ 200 milhões com telecom, praticamente sumiu. De volta à crise, a empresa chegou no ano 2000 com faturamento de US$ 100 milhões, e 600 funcionários.

Para reagir, a Promon decidiu surfar na onda da internet. Montou a Promon IP, com investimento de aproximadamente R$ 50 milhões. Dois anos depois, deixou o projeto de lado. Em parceria com a construtora Camargo Corrêa, injetou R$ 20 milhões na criação do Neogera, portal ligado à área de construção civil. Também não vingou. Nessa mesma época, colocou cerca de US$ 30 milhões no portal de negócios virtuais Bidare, que fechou um ano depois. "Foi um período complicado, houve um momento de dúvida existencial na empresa", comenta Gemignani.

Mas nem tudo foi malogro. Em 1999, a Promon foi procurada pela americana AT&T, que se interessou pela recém-criada NetStream, operação de telecom da companhia. Depois de nove meses de conversa, a AT&T pagou US$ 320 milhões .

Nesta rota de altos e baixos, em 2003 finalmente a companhia registrou prejuízos, pela primeira vez em sua história, um saldo negativo de R$ 27 milhões. Foi o estopim para reestruturar a empresa. Depois de elaborar um novo plano de ação e conseguir um financiamento de R$ 12 milhões junto do BNDES para apoiar suas mudanças, a Promon consegue voltar ao azul no ano seguinte, com lucro de R$ 26 milhões.

No ano passado, as vendas da empresa somaram R$ 690 milhões, com lucro de R$ 69 milhões. Hoje a holding tem 850 funcionários, dos quais 85% são sócios. Há uma fila de espera para comprar ações. Quando funcionários deixam a empresa, vendem seus papéis, que são repassados a novos funcionários. No controle da Promon, nenhum profissional pode ter mais de 5% de ações. A maior parte das decisões são tomadas em conjunto, inclusive a de eleger, a cada três anos, o presidente da holding. Os votos são secretos, e nos próximos dias haverá eleição para definir o novo presidente.

Gemignani, forte indicado a um novo mandato, lembra que, para além de sua nova liderança, a empresa também está para definir seus próximos passos no mercado. Um destes acaba de ser dado. A companhia acaba de criar o Instituto de Tecnologia Promon, espaço que será usado para debater tecnologias que mexerão com o mercado nos próximos três, cinco anos. Independente de produtos ou serviços da empresa, o instituto reunirá especialistas para discussões direcionadas a convidados. No próximo dia 17, o tema de abertura são os biocombustíveis.

"Hoje não vemos mais um muro na nossa frente, mas sim um campo muito vasto, que exige ousadia e prioridades", diz Gemignani. "O desafio é difícil, só que bem mais interessante de se enfrentar." (AB)