Título: Endinheirada, Conab atrai partidos
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2007, Agronegócios, p. B16

Dona de um suculento orçamento de R$ 5,2 bilhões para 2007, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) passou a ser um dos mais desejados postos por políticos e partidos. O volume de recursos destinado à Conab é superior ao orçamento de R$ 816,7 milhões do Ministério da Agricultura, ao qual está subordinada. Na Esplanada, só ostenta menos recursos que outros cinco superministérios - Saúde, Desenvolvimento Social, Educação, Transportes e Defesa.

Com autonomia para decidir sobre a aplicação do dinheiro, a Conab gerencia a execução da política agrícola e de abastecimento do governo federal em todo o país. Em 2006, gastou R$ 3,88 bilhões.

A disputa nos bastidores do governo está cada dia mais acirrada. Três forças brigam pela estatal. Auxiliado por movimentos sociais, como MST e Contag, o Núcleo Agrário do PT luta para manter a diretoria e os 22 superintendentes estaduais. Neoaliado do presidente Lula, o PMDB aposta na influência do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, para garantir o posto a um de seus filiados e recuperar a influência sobre a empresa nos Estados. O mais cotado é o ex-senador Maguito Vilela (GO).

Apontado como "credor" de Lula por ter sido o único líder ruralista a apoiar sua reeleição em 2006, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), indicará oficialmente hoje à Casa Civil o nome da advogada da superintendência da Conab em Mato Grosso, Kateri Felsky dos Anjos, para comandar a estatal. "Queremos contribuir com o governo. Por isso, nossa indicação é técnica", afirmou Maggi ao Valor. Na verdade, o governador queria emplacar Moisés Sachetti no cargo. Mas o nome do irmão do prefeito de Rondonópolis, domicílio eleitoral de Maggi, foi vetado por sua identificação política.

A principal atração é o poder decisório sobre as aquisições governamentais da agricultura. Sua influência vai de grandes e médios produtores, pequenos agricultores e segue até assentados da reforma agrária, índios e quilombolas.

A diretoria da empresa formula a política e determina aos Estados sua execução. Os superintendentes, hoje quase todos funcionários de carreira sem padrinhos políticos, têm pouca margem de manobra. Podem, é claro, propor alternativas. Mas, uma vez decidida em Brasília, a política é implementada sem a intervenção nos Estados. Apenas os superintendentes de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul são afiliados políticos. Ainda assim, são funcionários de carreira da estatal.

A situação é vista como um avanço pela atual diretoria, já que até 2003 o loteamento político era uma prática comum na Conab. A empresa acumulava problemas na Justiça por denúncias de corrupção e desvios de conduta.

"Tiramos a Conab das páginas policiais", afirma o deputado Adão Pretto (PT-RS), coordenador do Núcleo Agrário do partido. "Queremos que a Conab fique como uma canal da agricultura familiar, da compra direta dos pequenos produtores. Ela paga um preço melhor e distribui cestas básicas de qualidade. Isso é uma beleza para nós".

Os parlamentares do PT pressionam o Palácio do Planalto desde o fim de 2006. Já estiveram com os ministros Luiz Dulci (Secretaria-Geral) e Tarso Genro (Justiça) e com o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. O pedido também foi reforçado pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP). Na próxima semana, vão levar o pedido ao ministro Stephanes e incluir Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) no lobby.

Uma das fontes do poder da Conab, as compras diretas beneficiaram 164,3 mil agricultores familiares em 2006. Foram adquiridas 237 mil toneladas em 3.031 municípios do país. Também 968 mil famílias foram atendidas pelas cestas básicas da empresa no ano passado. Com os grandes produtores, a empresa gastou R$ 576 milhões apenas em subsídios diretos ao preço da soja, sobretudo em Mato Grosso. Também deu R$ 273,5 milhões para escoar a produção de grãos do Centro-Oeste para o Nordeste.