Título: BC vai diversificar aplicação de reservas
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2007, Finanças, p. C5

O Banco Central pretende diversificar a aplicação das reservas internacionais, informa o diretor de Política Monetária da instituição, Rodrigo Azevedo. Depois de o volume de reservas chegar a US$ 109,531 bilhões em março, há espaço para correr um pouco mais de riscos, aplicando em prazos mais longos, em títulos de outros emissores que não o Tesouro americano e em papéis denominados em outras moedas estrangeiras além do dólar.

Até agora, as aplicações das reservas espelhavam exatamente os passivos em moeda estrangeira do governo, quanto a prazos, classes de ativos e moedas. O BC poderá atuar com um pouco mais de liberdade daqui por diante porque, de um lado, as reservas aumentaram fortemente, superando os passivos externos; e, de outro lado, o próprio passivo externo encolheu e mudou o seu perfil, ficando mais longo.

"A idéia é que tenhamos um pouco mais - muito gradualmente, muito pouco - ativos de não dólar", explica. "Até hoje basicamente seguimos somente a composição das moedas do passivo externo soberano brasileiro. Como temos mais reservas do que passivos securitizados soberanos, é possível continuar 'hedgiando' o passivo e diversificar um pouco mais as reservas."

A dívida externa federal somava US$ 66,255 bilhões em fevereiro, dos quais US$ 51,931 bilhões representam a dívida mobiliária. Desse total, 85% eram bônus em dólares, e 13% em euros. Nos últimos anos, o passivo em moeda estrangeira se reduziu bastante. Considerando toda a dívida cambial, houve um enxugamento da ordem de US$ 71 bilhões. As reservas líquidas pularam de US$ 16 bilhões para US$ 109 bilhões desde 2002 e a dívida externa foi reduzida em US$ 37 bilhões, dos quais US$ 22 bilhões de organismos multilaterais e US$ 15 bilhões da dívida em mercado.

Azevedo explica que, quando se refere a procurar diferentes classes de ativos, "a idéia é ir um pouco além de apenas títulos soberanos americanos". Mas, segundo ele, não está nas cogitações seguir o exemplo de alguns países asiáticos que resolveram aplicar mais em papéis emitidos na própria região. "Os critérios de segurança e liquidez são fundamentais, por isso estamos falando de ativos que são praticamente 'triplo A', mas não necessariamente ativos em dólar."

Também não está sendo cogitado aplicar recursos das reservas em projetos domésticos, como investimentos em infra-estrutura. "Isso transcende o mandato do BC, não é exatamente a especialidade do BC", afirma Azevedo. "O BC aplica basicamente em ativos financeiros no mercado internacional."

O diretor do BC menciona ainda a intenção de aumentar a duração da dívida, que tem a ver com o prazo das aplicações e o risco que o investidor corre com variações de juros. Pelo dado mais recente disponível, de agosto de 2006, 4% das ampliações das reservas estavam no curtíssimo prazo, para resgate imediato; 16% estavam no curto prazo, com vencimento até um ano; e os 80% em prazos acima de um ano.

Azevedo esclarece que as mudanças ainda estão em estudo dentro do BC e que não vai ser uma grande mudança, mas "um pequeno desvio em relação àquilo que temos hoje". "É bom lembrar que estamos falando de reservas internacionais, portanto os critérios básicos de aplicação têm a ver não só com rentabilidade, mas também com liquidez e segurança", diz o diretor do BC.