Título: Reeleito, Renan rejeita submissão do Legislativo ao Executivo
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2007, Política, p. A6

Com um discurso pela independência e fortalecimento do Senado Federal, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi reeleito ontem para mais dois anos de mandato por 51 votos. O líder do PFL, José Agripino (RN), candidato da oposição, teve 28 votos, dez a menos do que o mínimo com o qual esperava contar na pior hipótese. Todos os 81 senadores votaram. Houve um voto em branco e um nulo (cédula rasgada).

Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Renan prometeu reforçar o papel fiscalizador do Senado e "preservar as competências legislativas da cobiça de outras forças". Ressaltou a necessidade de "mútua fiscalização" entre os três Poderes. E rejeitou a submissão do Legislativo ao Executivo. "Não permiti que a cordialidade levasse alguns ao equívoco de confundir governabilidade com submissão, ou de interpretar civilidade como subordinação, ou boa vontade como obediência", disse.

A pregação de Agripino pela importância de um presidente de oposição no Senado, para fazer "contraponto" ao governo e estabelecer "equilíbrio" entre os Poderes, não encontrou respaldo. Apesar do alinhamento de Renan ao governo, tucanos e pefelistas ocupam espaços políticos importantes e são ouvidos para definição da pauta de votações e outras decisões.

A reeleição tranqüila de Renan não significa que a situação do governo no Senado será mais fácil a partir de agora. Já reeleito, fez discurso acenando com aproximação. Ele receia que seqüelas azedem as relações. A oposição é forte no Senado, com poder para impedir votações. "As deliberações serão tomadas de forma coletiva, e nunca serão, como nunca foram, verticalizadas de cima para baixo. Aqui, se busca a concórdia, de maneira incessante e equilibrada", afirmou Renan, já reeleito, buscando aproximação. Na crise política durante a primeira gestão Lula, o Senado foi palco dos discursos mais fortes contra o governo.

O PFL, com 17 senadores, é a segunda maior bancada, atrás do PMDB (que tem 20, mas vai perder para o PPS Almeida Lima, de Sergipe). O PSDB vem em terceiro lugar, com 13 parlamentares. Um grupo de seis senadores do PMDB se intitula independente do governo. Esse grupo, somado a um do P-SOL, dois do PPS e três do PDT que costumam votar contra o governo - apesar do recente alinhamento do partido a Lula - totalizam 42 votos, número suficiente para impedir qualquer votação na Casa.

A ampla vantagem de Renan semeou desconfiança entre tucanos e pefelistas. Depois da eleição, apoiadores de Agripino especulavam sobre possíveis traidores. Mas há no PFL e no PSDB quem atribua o resultado a uma derrota pessoal de Agripino, por ter confiado em promessas que não se traduziram em votos.

O pefelista mostrou otimismo demasiado e não convenceu o PSDB de que a sua candidatura era competitiva, tanto que não obteve a soma de votos do PFL e do PSDB.

Foi a segunda derrota política importante dele em poucos meses. Na eleição presidencial, perdeu a disputa no partido para José Jorge (PE) pela vaga de candidato a vice-presidente na chapa do tucano Geraldo Alckmin. Mesmo assim, ontem foi confirmado líder da bancada, função que ocupa há seis anos.

Terminada a apuração, Agripino deu declarações acusando o Planalto de interferir na disputa para garantir a eleição de Renan: "Foram usados instrumentos para obter essa vitória. Não há dúvida de que o Planalto tinha interesse único da eleição de Renan e utilizou os recursos que possui".

Ele não citou, mas, segundo pefelistas, referia-se a denúncias de proposta do governo a eleitores de Agripino para votarem em Renan em troca de liberação de verbas previstas no Orçamento da União por emendas parlamentares. Na Câmara, também, este comportamento do governo foi várias vezes criticado pelos coordenadores da campanha do candidato Aldo Rebelo, governista que disputou a eleição com o PT.

Renan evitou polemizar. Negou qualquer interferência do Planalto ou uso da máquina a seu favor, inclusive do Senado. Mas acabou mostrando irritação. "Cadê os votos da oposição? Não sou eu que devo responder por isso", afirmou. Segundo ele, o resultado mostrou que a disputa foi um "equívoco", já que, de acordo com sua avaliação, no Senado "nunca houve a polarização entre governo e oposição".

Ao lado do senador José Sarney (PMDB-AP), Renan foi um dos principais interlocutores do PMDB com Lula. Agora, com o PMDB formalmente integrado à base, ele sinaliza afastamento dessa função, que causou insatisfação em alas não governistas do partido. No PMDB, anunciaram voto em Agripino Jarbas Vasconcelos (PE), Garibaldi Alves (RN) e Almeida Lima (SE). Da base de Agripino (PSDB e PFL), o único a anunciar que votaria em Renan foi João Tenório (AL), que assumiu na vaga do governador Teotônio Vilela, ligado ao presidente do Senado. Os demais haviam se comprometido com o pefelista.