Título: Varejo aposta alto em 2011
Autor: Branco,Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 22/12/2010, Cidades, p. 32

Pesquisa do Instituto Fecomércio constata que os empresários apostam em um crescimento de quase 24% no faturamento do ano que vem. Para o setor, as medidas da equipe econômica do governo federal para conter o consumo não irão frustrar as expectativas

A tomada de medidas de contenção da oferta de crédito por parte do Banco Central, que espera, dessa forma, frear o ímpeto dos consumidores brasileiros, não assustou os comerciantes do Distrito Federal. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Fecomércio, ligado à Federação do Comércio de Bens, Turismo e Serviços do DF (Fecomércio-DF), revelou que os lojistas locais estão com as expectativas nas alturas quanto ao desempenho das vendas em 2011. De 103 empresários entrevistados, 83,1% acreditam em faturamento superior ao de 2010 no ano que vem. Eles contam com um incremento médio de nada menos do que 23,98% na comparação anual. No recorte de segmentos específicos, alguns fizeram apostas ainda mais ousadas. Foi o caso de vestuário e perfumaria, por exemplo, que arriscaram para 2011, respectivamente, estimativas de crescimento de 33,5% e 29,93% frente a 2010 (veja quadro).

O presidente da Fecomércio-DF, Adelmir Santana, afirmou que o otimismo dos lojistas tem respaldo em todo um ano de vendas aquecidas. Ele destacou que episódios como as restrições ao crédito e a expectativa de que o Comitê Nacional de Política Monetária (Copom) elevará a taxa Selic em janeiro ¿ os juros básicos da economia brasileira sofreram a última alta em julho e estão em 10,75% ¿ não têm influenciado as decisões dos consumidores do Distrito Federal. ¿Os números mostram, até agora, que dezembro será esplendoroso, como os outros meses¿, afirma. Santana admite, entretanto, que bens de consumo duráveis, como carros e eletroeletrônicos mais caros, devem sofrer as consequências das condições mais apertadas de pagamento. ¿Deverão ser atingidas as compras maiores¿, prevê.

Menos prazo Para o consultor de varejo Alexandre Ayres, é plausível a expectativa dos lojistas do varejo de crescerem acima de 20% em 2011. Como Adelmir Santana, Ayres acredita que as compras de valor mais alto sofrerão os reveses das medidas do governo federal. Lojistas que trabalham com bens não duráveis, como roupas, calçados e afins, diz ele, podem até ser beneficiados em um primeiro momento.

¿Com o crédito contingenciado, o prazo do financiamento fica mais curto e as entradas, maiores. Quem vinha guardando dinheiro para adquirir um bem, de repente, se vê às voltas com uma entrada muito mais cara. Então, gasta o dinheiro com a linha não durável. É um movimento que chamamos de autoindulgência¿, explica. ¿As pessoas estão com a autoestima e a confiança muito fortes, e isso impulsiona as vendas, a despeito dos fatores econômicos. Caso, em 2011, os consumidores continuem acreditando na manutenção do emprego e da renda, eles vão comprar¿, completa.

O vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas do DF (CDL-DF), Geraldo Araújo, acredita em um desempenho positivo do comércio em 2011, mas em um patamar menor do que o evidenciado pela pesquisa do Instituto Fecomércio. ¿Não deve ser um incremento acima de 12%, 13%. Só aplicam para faturar mais do que isso os grandes magazines e redes¿, diz. Araújo afirma ainda que a retração do crédito pode inibir as grandes vendas primeiro, mas também atingirá os comércios de menor porte. ¿Acredito que a loja que divide em 10 vezes no cartão de crédito reduzirá para seis, ou oito parcelas. Isso deve influir no comportamento do consumidor¿, acredita.

FREIOS Um mercado de consumo aquecido significa demanda elevada por bens e serviços, o que pode causar aumento da inflação. Para evitar que isso aconteça no Brasil, o Banco Central anunciou recentemente uma série de medidas de restrição ao crédito, que vinha sendo estimulado pelo governo federal desde o fim de 2008, época do estouro da crise global. Foram elas: aumento da alíquota dos depósitos compulsórios, retirando R$ 61 bilhões da economia brasileira; novas regras para cartões de crédito; e exigência de mais capital por parte dos bancos para operarem empréstimos de prazo maior. Na última segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ainda um apelo para que os brasileiros comprem ¿com responsabilidade¿.

HORÁRIO DAS LOJAS NO FIM DE ANO O Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista) informou que, nos dias 24 e 31, as lojas de rua e de shopping funcionarão até as 17h. Nos dias 25 ¿ Natal ¿ e 1° de janeiro ¿ feriado de ano novo, o comércio não abrirá. Nos shoppings, apenas as praças de alimentação e as áreas de lazer vão operar. Nos dias 26 de dezembro e 2 de janeiro, que caem ambos em domingos, as lojas de shopping abrirão das 14h às 20h. Os comerciantes de rua têm liberdade para definir se vão funcionar ou não nessas datas.

Ano-novo repleto de otimismo

Expectativa dos empresários para o próximo ano, segundo pesquisa do Instituto Fecomércio

83,1% de 103 comerciantes acreditam em alta nas vendas frente a 2010 18% esperam desempenho igual 3% estimam vendas mais baixas 23,98% é a estimativa média de crescimento entre quem crê em melhora nas vendas

Ranking dos setores mais animados

Segmento - Expectativa de alta nas vendas frente a 2010 1º ¿ Vestuário - 33,5% 2º ¿ Calçados - 29,93% 3° ¿ Perfumaria - 27,33% 4° ¿ Lojas de departamento - 13,57% 5º ¿ Eletroletrônicos - 13%

Desempenho em novembro

Variação das vendas Frente a novembro de 2009 14,66% Frente a outubro de 2010 1,37%

Setores com melhor desempenho mensal Móveis e decoração 17,04% Lojas de utilidades domésticas 10,51%

Setores com pior desempenho mensal Cine, foto e som - 15,2% Materiais de construção - 14,98%

Variação na oferta de emprego Frente a novembro de 2009 8,08% Frente a outubro de 2010 1,22%

Vendas acumulam alta de 17,17%

A Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista do Distrito Federal, realizada mensalmente pelo Instituto Fecomércio, apontou que os lojistas locais tiveram um novembro aquecido. As vendas no período cresceram 14,66% frente a igual época de 2009. Em relação a outubro deste ano também houve incremento de 1,37%. Além disso, no acumulado de 2010, o índice cresceu 17,17%.

Os segmentos mais beneficiados no balanço mensal foram o de móveis e decoração, que registraram alta de 17,04%, e o de utilidades domésticas, que cresceu 10,51%. O setor de cine, foto e som, que vinha cravando desempenhos positivos devido ao dólar em baixa, sofreu um revés no penúltimo mês do ano, com vendas 15,2% menores do que as de outubro. O segundo setor mais prejudicado foi o de materiais de construção, com uma queda de 14,98% nas vendas em novembro.

Feita a partir das informações fornecidas por 400 empresários do DF, a pesquisa também revelou que o nível de emprego no comércio cresceu no mês passado, tanto na comparação mensal quanto na anual. Na comparação com outubro deste ano, o incremento foi de 1,22%. Com relação ao mesmo período de 2009, ficou em 8,08%. De acordo com a Fecomércio-DF, as contratações temporárias para o Natal influíram na alta do número de ocupados no varejo. No ano, o índice de emprego no setor acumula expansão de 10,17%.

O presidente da entidade, Adelmir Santana, destaca que o fechamento dos resultados de dezembro, com inclusão das compras de Natal, deve tornar 2010 um dos melhores anos registrados para o comércio do DF. ¿O comércio vive de datas comemorativas, e o Natal é a mais significativa delas¿.

A CDL-DF também acredita que 2010 terá um desempenho acima da média. ¿Outras datas como Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia dos Namorados foram muito boas para o faturamento este ano. Como o Natal supera todas elas, deve nos garantir um fechamento muito bom¿, disse Geraldo Araújo, vice-presidente da CDL. Araújo estima crescimento de 9% a 12% das vendas frente a 2009.