Título: Juro cai menos com demanda forte, diz Copom
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2007, Finanças, p. C1

O documento faz várias referências à expansão fiscal, que ganhou novo impulso com a divulgação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas o BC não faz críticas nem elogios a essa política. Apenas toma como mais um dado que impulsiona a demanda na economia, que já é razoavelmente robusta.

Na semana passada, o Copom reduziu os juros em apenas 0,25 ponto percentual, para 13% ao ano, em vez dos cortes de 0,5 ponto feitos anteriormente. Logo após a reunião, o BC emitiu um comunicado sinalizando que, apesar do ritmo mais lento, a distensão monetária continuaria.

A avaliação dos analistas econômicos é que, na ata, não há nada que possa mudar o consenso do mercado financeiro sobre os próximos cortes de juros. A previsão é um corte de 0,25 ponto em março e outras quatro reduções da mesma magnitude nos meses seguintes, o que faria a taxa básica encerrar o ano em 11,75%.

"O Copom traz argumentos convincentes de que era o momento de reduzir o ritmo de redução dos juros", afirma Caio Megale, da Mauá Investimentos. "Mas ficou claro que a redução do ritmo não implica que o ciclo (de distensão) terminou."

Na ata, o Copom mostra confiança em que a inflação fique nas metas, mas pondera que se agravou o risco de as coisas saírem fora do previsto. A ata de novembro dizia que os dados sobre a atividade econômica sugeriam "baixa probabilidade" de pressões inflacionárias. Ontem, está dito que a atividade "ainda não sugere uma probabilidade elevada" de pressões inflacionárias.

O Copom, na sua atual composição, costuma medir cuidadosamente cada palavra da ata - e o documento divulgado ontem inclui uma terminologia mais forte. Se refere à "demanda aquecida" e a uma "demanda doméstica que cresce a taxas robustas". Na leitura de analistas econômicos, o principal sinal de aquecimento são as vendas no varejo, que cresceram 6,2% de janeiro a novembro de 2006, em relação ao mesmo período de 2005.

A expansão fiscal foi mencionada no texto. O Copom disse que passou a trabalhar com a possibilidade de o superávit primário ser reduzido de 4,25% para 3,75% do PIB para acomodar investimentos anunciados no PAC. Disse, em outro trecho, que os estímulos fiscais também vão contribuir para a que a indústria acelere a sua expansão em 2007 - até novembro, a ata dizia apenas que tal expansão iria ocorrer exclusivamente em função dos estímulos da política monetária.

Essa descrição de uma demanda que cresce de forma mais robusta - o que amplia o risco de descompasso com a oferta - é o fato novo na visão de um Copom que já manifestava outra preocupações desde julho de 2006. O BC já fazia alertas de que: 1) o corte acumulado de 6,5 pontos nos juros feito desde setembro de 2005 (com a decisão da semana passada, subiu para 6,75 pontos) ainda não chegou à atividade e inflação; 2) existem incertezas sobre quanto e como o afrouxamento monetário afeta a inflação; 3) os juros já estão muito próximos das taxas naturais, ou seja, que mantêm a inflação na meta.

Na visão de alguns analistas, porém, as explicações do BC não foram suficientes para justificar a desaceleração dos cortes dos juros. O economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset Management, chama a atenção para o trecho da ata em que o BC diz que melhoraram as suas projeções de inflação em relação ao estimado em novembro - o que significa uma inflação em 2007 abaixo de 3,9%, percentual este que já era inferior à meta, de 4,5%. "As próprias informações do BC mostram que o risco de um corte de 0,5 ponto seria muito baixo", disse. "O Brasil está com os juros fora do lugar, e o BC perdeu uma oportunidade de reduzi-los."