Título: Brasil faz 11% do lucro do Santander
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2007, Finanças, p. C8

O Banco Santander Banespa dobrou a aposta nos funcionários públicos do Estado de São Paulo e resolveu novamente antecipar o pagamento dos salários desses clientes como fez em janeiro, quando a conta-salário dos servidores passou para a Nossa Caixa.

A retenção dessas contas é importante para os resultados do banco, que somaram R$ 1,26 bilhão em 2006, 28% abaixo dos R$ 1,744 bilhão de 2005. O vice-presidente executivo de marketing, produtos e segmentos, José Paiva, atribuiu a queda do lucro ao fato de 2005 ter sido favorecido por um ganho extraordinário de R$ 635 milhões, obtido com a venda da participação do banco na AES Tietê. Sem isso, o resultado deste ano teria sido 14% superior ao de 2005. O retorno sobre o patrimônio líquido ficou em 16,1%.

Apesar disso, o Brasil manteve a contribuição de 11% para o resultado global do grupo também anunciado ontem, e para 33% dos ganhos obtidos na América Latina. Pela contabilidade espanhola, as operações no Brasil registraram lucro de ? 751 milhões. Na América Latina, o grupo lucrou ? 2,287 bilhões, 34% do resultado global de ? 7,596 milhões.

Os resultados do Santander Banespa foram puxados pelo aumento de 29% das operações de crédito para R$ 37,5 bilhões, que garantiu a expansão de 19% para R$ 4,871 bilhões do resultado da intermediação comercial; e pela expansão de 23% da receita de serviços, seguros e capitalização, para R$ 3,068 bilhões. Paiva prevê para este ano o aumento de 25% do crédito, nas linhas que se destacaram em 2006, de crédito consignado e financiamento de veículos.

A expansão do crédito causou o aumento da inadimplência. Medida pelo percentual de créditos vencidos há mais de 90 dias (classificados entre E e H na escala de nove degraus do Banco Central) passou de aproximadamente 4% para 4,8% entre o final de 2005 e final de 2006, depois de ter atingido 5,2% em setembro. De toda forma, é dois pontos inferior aos 6,8% do sistema financeiro em dezembro. Por isso, as despesas com provisões saltaram 86% para R$ 1,522 bilhão.

As operações de crédito para pessoas físicas aumentaram 32% para R$ 12,3 bilhões, puxadas pelo consignado, que cresceu 75% para R$ 1,767 bilhão. Outro destaque foi o financiamento de veículos, com aumento de 50% para R$ 3,488 bilhões. As operações com empresas aumentaram 29% para R$ 21,4 bilhões.

O Santander Banespa garantiu que antecipará para amanhã os salários de janeiro dos 550 mil funcionários públicos do Estado de São Paulo que assinaram o termo de preferência de relacionamento com o banco e assim o desejarem. Pelo cronograma acertado entre a Nossa Caixa e o governo paulista, os aposentados só serão pagos segunda-feira; os contratados pela CLT, no dia seguinte; e os funcionários ativos da administração direta. Os clientes podem transferir os salários até dia 12.

Paiva afirmou que a antecipação será mantida até quando for necessário. A primeira experiência, em janeiro, foi positiva, avaliou. Dos 650 mil de funcionários públicos que recebiam o salário pelo Santander Banespa, 500 mil formalizaram o desejo de continuar trabalhando com o banco mesmo após a transferência da conta salário para a Nossa Caixa ainda no ano passado; outros 50 mil aderiram em janeiro. Além do adiantamento do salário sem custos, esses clientes têm isenção de tarifas e condições diferenciadas no crédito e no cartão.

Apesar de representar 7,4% da carteira de 7,4 milhões de clientes, os funcionários públicos são cobiçados pelo salário médio elevado, estabilidade de renda e emprego.

O Santander trabalha com a expectativa que os funcionários públicos tenham acesso à conta salário - que permitirá a transferência automática do pagamento - a partir de abril. Mas, isso pode se estender até 2011 se o governo estadual licitar o pagamento da folha.

A venda de participações engordaram os resultados globais do Santander. O banco obteve ? 2,5 bilhões antes de impostos com a venda de participações no italiano San Paolo e na empresa do setor imobiliário Urbis. Outro destaque foi a receita obtida com as operações na América Latina.

Praticamente toda a receita proveniente da venda de participações foi usado para pagar o programa de aposentadorias antecipadas, reforma fiscal e dar aos funcionários um pacote especial de ações para celebrar o aniversário de 150 anos. Incluindo esses encargos, o lucro cresceu 22%. Sem eles, o ganho foi de 26%.

O Santander investiu US$ 17 bilhões em aquisições na América Latina desde 1996, estratégia que compensou, pois a expansão econômica da região aumentou a demanda por serviços bancários.

O Santander também foi beneficiado com a melhora dos lucros do banco britânico Abbey National, que concede empréstimos para a compra da casa própria e que foi comprado em 2004.

Os negócios na Europa Continental (Espanha, Portugal e Santander Consumer Finance) apresentaram uma margem operacional 20% maior. Na América Latina, os custos cresceram 13% com o investimento em novos projetos e rede dos principais países. Depois do Brasil, os principais mercados na região são México e Chile.