Título: Risco mais palatável
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2007, EU & Investimentos, p. D1

O risco do investimento em bolsa hoje está, em média, substancialmente menor do que há cinco anos. Estudo do Banco WestLB revela que caiu sensivelmente o número de dias em que o Índice Bovespa registrou forte oscilação de 2002 para cá. Isso quer dizer que a possibilidade de o investidor perder muito dinheiro num único dia - ou mesmo ganhar uma bolada de uma hora para outra - diminuiu.

Não que a bolsa não varie. Ela continua tendo altas e baixas, principalmente neste momento de incerteza com relação ao crescimento da economia americana. O que o levantamento mostra é que, em comparação aos anos anteriores, o risco de o investidor ter uma perda gigantesca caiu, ou seja, o limite de oscilação está menor.

O estudo elaborado pelo economista Ricardo Amorim, diretor de pesquisa econômica e estratégia para América Latina do WestLB, revela que, em 2002, por exemplo, o índice variou bastante: chegou a cair 6,38% em um único dia e registrar alta de 5,10% em outro. No ano seguinte, a variação do Ibovespa já diminuiu, ficando entre uma queda de 4,02% e uma alta de 2,98%. Em 2004, a volatilidade voltou a subir, ficando entre uma queda de 6,54% e uma alta de 4,25%. Desde então, voltou a cair. No ano passado, houve queda de 4,7% num único dia e alta de 4,09% em outro.

O estudo revela ainda que cresceu o número de dias em que o intervalo de variação do índice foi mais modesto - entre uma queda de 1,80% e uma alta de 1,65%. Em 2002, o Ibovespa oscilou nesse intervalo em 167 dias. Um ano depois, foram 189 dias. Em 2004, foram 171 dias nesse intervalo. Em 2005, a volatilidade aumentou pois o Fed, Banco Central dos EUA, começou a elevar os juros, o que fez com que o número de pregões nesse intervalo mais modesto caísse para 166 dias. Já em 2006, volatilidade diminuiu e foram 202 dias de pregão nessa faixa. "Isso significa que o mercado está cada vez oscilando em intervalos menores", explica Amorim.

Assim, o índice apresenta menor risco, o que deixa o investidor mais confortável com esse tipo de investimento. Mas fica o alerta: a tendência é de queda da volatilidade do indicador como um todo, o que não quer dizer que não haverá altos e baixos, diz Amorim.

A relação risco/retorno da bolsa hoje realmente é melhor do que há alguns anos, mas não se deve esquecer que cenários de estresse - como os ataques terroristas nos Estados Unidos em 2001 - podem acontecer, lembra Alexandre Espírito Santo, sócio da Avanti Gestão de Recursos e chefe do departamento de Economia e Finanças da ESPM-RJ. "E, num primeiro momento, o investidor pode perder bastante", diz. "É preciso ter muito bem isso em mente."

Liquidez, volatilidade e número de agentes bem informados andam de mãos dadas no mercado, diz Ricardo Leal, professor-titular de Finanças do Instituto Coppead-RJ. Quando há um aumento do fluxo de recursos estrangeiros e de agentes bem informados, como houve no mercado brasileiro, é natural que o preço dos ativos fique mais próximo do considerado justo, afirma o professor. "Com isso, a volatilidade cai", diz Leal.

No entanto, o investidor que tiver um portfólio de ações mais concentrado, como de "small caps" (empresas com menor liquidez na bolsa) ou mesmo num fundo de ação ativo, que busca superar o Ibovespa, está correndo um outro nível de risco. Quando se aplica somente em alguns papéis, o risco da carteira é maior do que o de um fundo que cuja estratégia é replicar o índice, diz Amorim.

O risco que o investidor corria ao comprar num título prefixado em 2002 está praticamente no mesmo nível do investimento em bolsa hoje, diz Amorim. A volatilidade que o investidor encontra hoje não é o mesma que a de cinco anos atrás, conta.

Espírito Santo, da Avanti, lembra que os últimos cinco anos foram de alta para a bolsa. "As pessoas que aceitam um determinado nível de risco e que têm um horizonte de investimento um pouco maior estão mais confortáveis com a volatilidade hoje", diz. Mas é preciso ter visão de longo prazo, de pelo menos dois anos, avalia o executivo, pois esse normalmente é o prazo que o mercado demora para digerir um evento extraordinário.

Além disso, o mercado brasileiro ainda é muito dependente do capital externo, diz Leal, do Coppead, lembrando que os investidores estrangeiros compraram cerca de 80% das aberturas de capital no ano passado. "Às vezes, um pequeno redirecionamento de carteiras desses agentes se reflete aqui, embora esse não seja o cenário mais provável neste momento", diz.

Excepcionalmente neste mês, a "Carteira Valor" será publicada no terceiro dia útil (dia 5)