Título: Fora de cena, Daniel Dantas agora faz fortuna com a Santos Brasil
Autor: Adachi, Vanessa e Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2007, Empresas, p. B1

O investidor Daniel Dantas já viveu dias melhores. Mas engana-se quem pensa que ele está fora do jogo. Em meio à batalha societária que trava com Citigroup e os fundos de pensão, perdeu a gestão de Brasil Telecom, Metrô do Rio, Telemig e Amazônia Celular. Mas no único negócio em que conseguiu fechar um acordo com os seus desafetos, saiu-se muito bem.

A Santos Brasil, empresa que opera o Tecon1, maior terminal de contêineres do país, teve o seu valor quintuplicado desde que, em maio do ano passado, os fundos e o Citi venderam suas participações na empresa ao Opportunity de Dantas e outros dois acionistas. Na época do acordo, a companhia foi avaliada em R$ 695,6 milhões. Os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Sistel (Telebrás), Funcef (Caixa Econômica Federal) e o fundo CVC, do Citi, detinham, direta e indiretamente, 64,76% do capital da Santos Brasil e receberam R$ 450,5 milhões por suas ações.

Cinco meses depois, a Santos Brasil lançou suas ações em bolsa, com um aumento de capital de R$ 933 milhões. Desde então, seus papéis subiram 16% e hoje a companhia vale R$ 3,6 bilhões. Só a fatia detida pelo Opportunity Fund, de 26,98% da empresa, vale R$ 970 milhões. Na época do acordo com as fundações, a participação do fundo gerido por Dantas, de 22,77%, valia R$ 158 milhões.

Embora soubessem que a Santos Brasil era uma empresa eficiente, com potencial de crescimento em um setor estratégico, as fundações e o Citi resolveram sair do negócio porque esse era o único ativo dos investimentos conjuntos com o Opportunity em que a soma de suas participações diretas não lhes garantia o controle. Parte das ações das fundações estava dentro do Opportunity Leste, veículo de investimento controlado por Dantas. "Estávamos presos, porque ele poderia fazer o que quisesse com o Opportunity Leste e não tínhamos 'tag along' nem acordo de acionistas", diz um técnico de uma das fundações.

Dos R$ 450,5 milhões recebidos pelos fundos na venda de suas ações, R$ 321,3 milhões representaram ágio em relação ao preço pago na privatização. Esse valor assegurou às fundações uma rentabilidade superior à meta atuarial do período de oito anos. Em um dos casos, o retorno ficou 20 pontos percentuais acima da meta.

Embora o clima durante o período de um ano que durou as negociações tenha sido tenso, o resultado foi considerado satisfatório pelas fundações. "Eles se deram muito bem, mas nós ficamos satisfeitos", diz executivo ligado às fundações. Segundo ele, alguns dos fundos de pensão estão "maduros", o que significa que pagam mais aposentadorias e pensões do que recebem de contribuição, e precisavam de liquidez. "Cada investimento tem seu momento. É por isso que precisamos diversificar."

No acordo, os fundos e o Citi foram assessorados pela Angra Partners, que se baseou em três análises distintas para avaliar o ativo. No lado comprador, o Opportunity uniu-se à família Klien, dona da Multiterminais, do Rio, que tinha 10% no capital da Santos Brasil. Ambos contrataram o banco de investimentos Credit Suisse para avaliar a empresa.

O CS atuou em várias etapas da operação. Ajudou a criar uma engenhosa estrutura que reduziu enormemente o desembolso dos compradores. O banco fez um empréstimo de R$ 323,7 milhões tendo como garantia as ações da companhia. Mais tarde, as empresas que tomaram o empréstimo foram incorporadas pela Santos Brasil, que passou a ser a devedora.

Em outubro, a operadora portuária fez a sua oferta de ações sob a coordenação do CS, e quitou o empréstimo com parte dos R$ 933 milhões captados.

Quem pagou a maior parte da aquisição das ações das fundações e do CVC, portanto, foram os minoritários que ingressaram na companhia. Mesmo cientes disso, pois a operação estava descrita no prospecto da oferta de ações, os investidores enxergaram a oportunidade de entrar numa empresa líder em um setor em franca expansão no país.

O empresário Richard Klien diz que sempre enxergou esse potencial e, por essa razão, teria convencido Dantas a permanecer no negócio. "Desde o início, tomei uma posição neutra entre os dois lados", diz ele. Quando foi fechado o acordo com as fundações, a família Klien aproveitou para ampliar sua fatia no negócio, de 10% para 30% (antes da diluição com a oferta de ações).

Dantas e Klien trouxeram ainda para a Santos Brasil o banqueiro Dorio Ferman, presidente do Banco Opportunity. Ele comprou 30% do capital da empresa em maio do ano passado. Depois da estréia em bolsa, conserva 20,8% do capital, avaliados atualmente em R$ 748 milhões.

Os três integram o bloco de controle e têm um acordo de acionistas para votar em conjunto. Uma situação bem diferente daquela de um ano atrás, quando a disputa societária dificultava os investimentos da empresa e limitava seu desenvolvimento. Em parte, a valorização das ações também reflete isso. Se tivesse ido à bolsa antes de resolver o nó societário, como chegou a ser cogitado, o valor da empresa tenderia a ter um desconto. Mesmo fora de cena, Daniel Dantas parece conservar o dom de fazer dinheiro.