Título: Grupo ligado a FHC já comemora vitória da candidatura própria
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2007, Política, p. A6

A candidatura do tucano Gustavo Fruet (PR) à presidência da Câmara conseguiu, ao menos momentaneamente, unir o PSDB e abalar a campanha do líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Os efeitos iniciais do lançamento de Fruet foram comemorados principalmente pelo grupo político do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Decidido a conter o avanço de Chinaglia, essa ala do PSDB estimulou Fruet a se lançar como candidato.

FHC, que tem simpatia pela candidatura Aldo, tem manifestado preocupação com as conseqüências de uma eventual vitória de Chinaglia. O ex-presidente estaria convencido de que setores do PT trabalham para viabilizar um terceiro mandato para o presidente Lula. Considerado pouco verossímil até por setores da oposição, esse projeto passaria pelo fim da reeleição, zerando o jogo eleitoral - plano que seria facilitado com o PT no comando da Câmara.

De acordo com interlocutores de FHC, sua certeza baseia-se em experiência própria: depois de reeleito para o segundo mandato como presidente, ele teria recebido oferta de juristas, com pareceres atestando seu direito de disputar um terceiro mandato. O principal argumento era o fato de seu primeiro mandato ocorrido sob outro marco jurídico, no qual a reeleição era proibida. FHC acha que, com uma nova mudança nas regras, Lula teria aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para uma nova disputa. Outro lance petista que alerta o grupo do ex-presidente é a possibilidade de o Congresso aprovar a anistia do ex-deputado José Dirceu (PT-SP).

Os principais aliados de FHC no Congresso são os deputados recém-eleitos Paulo Renato Souza (SP) e José Aníbal (SP). Ambos são integrantes do chamado "grupo dos 30" e principais articuladores da candidatura Fruet. Ainda que tenha pouca chance de vitória, a entrada de Fruet na disputa - até então polarizada por dois governistas - embola o jogo, interrompe um ciclo de fatos positivos na campanha de Chinaglia e dá alento a Aldo, que não vem conseguindo fechar alianças formais. Apoiadores do comunista apostam que Fruet levará a disputa para o segundo turno, quando acreditam que Aldo será beneficiado por um sentimento anti-petista da Casa.

A candidatura própria do PSDB deu argumento para o recuo da ala do partido que manifestou apoio a Chinaglia - como o líder da bancada, Jutahy Júnior (BA) - e foi muito criticada por FHC e outras lideranças, como o presidente da sigla, senador Tasso Jereissati. Jutahy já comunicou a Chinaglia que a bancada tucana vai rever o apoio inicialmente manifestado à sua candidatura. "Eu mesmo vou encaminhar essa posição na reunião de terça-feira: a candidatura de Fruet pode unificar o partido", disse ele.

FHC considerou precipitada a posição inicial de Jutahy. Já Tasso Jereissati disse que o apoio a Chinaglia não representava o "sentimento geral" do partido. Por isso, convocou reunião da Executiva Nacional para o dia 25, para discutir o assunto. O lançamento de Fruet pelo chamado "grupo dos 30", formado por parlamentares de vários partidos com atuação independente, interrompeu as divergências tucanas. "É um fato novo. A candidatura dele pode unificar o partido", afirmou Jutahy. Em viagem pela Europa, Tasso expressou apoio a Fruet por meio de sua assessoria: "Seu trabalho na Câmara o credencia a disputar a presidência da Casa com uma proposta de resgate da credibilidade".

Fruet foi escolhido a dedo. Filho do ex-deputado Maurício Fruet (PMDB-PR), é respeitado no Congresso. Ganhou notoriedade por sua atuação na CPI dos Correios. Formado em Direito, foi o parlamentar mais votado no Paraná nas últimas eleições. Inicia em fevereiro seu terceiro mandato.

O governador de São Paulo, José Serra, apontado como um dos artífices do apoio a Chinaglia por causa de um suposto acordo político com o PT paulista, foi um dos primeiros a serem procurados por Fruet. Serra negou a existência de acordo regional e também manifestou apoio ao candidato tucano. O governador de Minas, Aécio Neves, também citado como defensor do apoio a Chinaglia, prometeu engajamento na campanha de Fruet. Reunirá a bancada tucana de seu Estado na segunda-feira e pedirá votos também a deputados de outros partidos.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin também declarou seu apoio ao paranaense, em carta aberta, na qual diz que, com o lançamento de Fruet como candidato à presidência da Câmara, "o PSDB reafirma o seu compromisso de defender as instituições brasileiras e contribuir para aperfeiçoar a democracia do nosso país".

O PFL segue apoiando Aldo Rebelo, segundo o líder pefelista, Rodrigo Maia (RJ). Ele também foi contatado por Fruet. O candidato tucano rejeita o rótulo de candidato da oposição. "Trata-se de uma candidatura da instituição", disse ele, que não quer uma posição de confronto e sim de independência. Esse é o principal argumento usado pelo deputado Antônio Carlos Pannunzio (PSDB-SP). "Não queremos um presidente da Câmara subserviente. Ninguém caracteriza melhor a independência do que Fruet", afirmou. Ligado a Serra, Pannunzio deverá ser eleito líder na reunião de terça-feira.