Título: Aldo recusa cargo no ministério e se mantém na disputa
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2007, Política, p. A7

O presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP), a despeito do esforço de ministros, petistas e alguns integrantes da bancada governista, vai até o plenário como candidato à reeleição. A moeda de troca oferecida por petistas - uma vaga na Esplanada caso desistisse de disputar com Arlindo Chinaglia - não seduziu Aldo por uma razão simples: ela passaria a imagem de que, na verdade, o comunista estava apenas se cacifando para conseguir retornar ao Executivo. Mas o ímpeto do PT para atropelar Aldo pode ser desastroso. Preocupados, aliados históricos, como o PSB e o PCdoB, temem a reedição do esquema fisiológico de alianças que imperou durante os quatro primeiros anos de mandato de Lula.

No fim de semana, a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, procurou Aldo para uma nova conversa. Aliados do comunista declararam que a ministra estaria preocupada com a sucessão de ofertas de cargos por aliados de Chinaglia, sobretudo na área de infra-estrutura. Teria deixado claro que o Planalto não tinha qualquer envolvimento com a questão. Queria ainda discutir possibilidades para que a disputa terminasse antes do confronto em plenário.

Ouviu, como de costume, a negativa do comunista. Ontem, depois de cerimônia no Planalto, Lula lamentou a falta de acordo: "Quando você tem dois companheiros que considera como irmãos, como filhos, vocês espera que eles resolvam entre os dois. Quando eles não resolvem, que a democracia, pela sua maioria absoluta, eleja aquele que a Câmara entender que seja melhor".

Para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o lançamento de Gustavo Fruet (PSDB-PR) pela terceira via, consolida o segundo turno, que será vencido por Aldo: "Hoje o quadro é claro de segundo turno. Ele vencerá o segundo turno. Pela minha experiência, já vi de tudo, até pessoas vencendo com um voto".

"O PT quer demonstrar ao presidente Lula que ainda é imprescindível, que tem força e prestígio e condições de disputar a hegemonia", definiu o presidente do PCdoB, Renato Rabelo (SP). Esse ímpeto rompeu um acordo tácito firmado durante a campanha eleitoral: todos se empenhariam na reeleição de Lula, de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado e de Aldo para a Câmara. Depois do segundo turno presidencial, o PT roeu a corda e espalhou um mal-estar profundo em boa parte da coalizão governista.

Comunistas e socialistas vêem com desconfiança os movimentos do PT. Reclamam que as negociações programáticas estão sendo trocadas por promessas pragmáticas. Insinuações de cargos para petebistas, pepistas e pemedebistas soam mal aos ouvidos de antigos parceiros. Vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS) não esconde o desapontamento: "Eu imaginava que a composição do ministério fosse ser feita de maneira diferente. Se o PT estiver de fato falando em nome do governo, retrocedemos quatro anos. Se não estiver, que haja um sinal inequívoco de reprimenda por parte do Executivo".

O primeiro passo petista para mostrar força na candidatura de Chinaglia foi selar um pacto com o PMDB. Em troca de apoio, aceitariam pedir votos para que um pemedebista presida a Câmara no biênio 2009/2010. Integrantes da bancada do PMDB sabem que o PT é uma incógnita quando se trata de cumprir acordos, mas acham que os petistas precisam "entregar a mercadoria prometida". Caso contrário, o PMDB infernizará o governo Lula, retirará toda a infra-estrutura regional e deixará o PT sem chances concretas de eleger o sucessor de Lula.

É justamente isso que tira o sono dos aliados históricos. Para eles, o governo Lula tornou-se refém do PMDB, vendeu a alma "sem nem ao menos vislumbrar a face do comprador", declarou um comunista. O PMDB apóia Chinaglia. O PT apoiará quem em 2009? "Ainda é cedo para discutir nomes na bancada, quem se lançar agora vai se queimar", disse um pemedebista.

Um dos principais articuladores da candidatura Chinaglia, o deputado eleito Jilmar Tatto (PT-SP) não tem dúvidas de que seu partido vai quitar a dívida com o PMDB. Mas espera que, ao menos, o nome seja consensuado entre os aliados. Para Renato Rabelo, essa relação não é tão simplista: "O PMDB vai lançar um nome em 2009 para fazer disputa política com o PT e o governo, não há dúvidas".