Título: Queda do petróleo já chega a consumidores
Autor: Capela, Maurício e Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2007, Empresas, p. B5

A forte queda do preço do petróleo no mercado internacional começa a surtir efeitos no Brasil. Apesar de a Petrobras não sinalizar mudanças quanto ao valor cobrado pelo litro da gasolina ou do óleo diesel internamente, o fato é que os compradores de nafta petroquímica, usada para produção de resinas que vão desembocar em produtos plásticos para os mais diversos segmentos, como embalagens ou automotivo, já projetam preços menores em fevereiro.

Uma fonte do setor petroquímico assegura que a expectativa é que a tonelada do insumo caia para níveis inferiores a US$ 500 - 9,3% menor que os cerca de U$ 551 de janeiro deste ano. Procurada pelo Valor, a maior fabricante petroquímica da América Latina, a Braskem, preferiu não se manifestar sobre preços futuros, apesar de assegurar que a nafta deverá ter cotação menor já no próximo mês.

Se a Braskem espera, a indústria de autopeças que utiliza plástico tem certeza. Tanto que já começou a pagar menos pela matéria-prima em razão da queda dos preços do petróleo. Gabor Déak, presidente da Delphi, um dos maiores fornecedores da indústria automotiva, diz que a empresa começou a sentir a diferença de preços no final de 2006. "Não sei se a queda mais recente já se refletiu, mas isso deve acontecer no curto prazo", afirma.

Diante das últimas notícias, o executivo pretende entrar em contato com seus fornecedores para discutir mais reduções de preços. "Depois de tudo o que pagamos de aumentos no passado é justo agora que repassem a redução", afirma. Segundo Déak, os preços no mercado brasileiro ainda estão acima dos internacionais, mas o custo do frete inviabiliza a importação. A Delphi tem as próprias injetoras plásticas que produzem itens como terminais de sistemas elétricos e tampas de radiadores.

Mesmo diante da expectativa da indústria automotiva, Alexandrino de Alencar, vice-presidente de relações institucionais da Braskem, informa que a provável redução se baseia no lastro do mercado internacional. "O preço da nafta no Brasil acompanha sua cotação mundial, que está atrelada ao mercado de petróleo, cujos valores estão em queda", diz Alencar. Além disso, o valor da tonelada da nafta no país é sempre calculado, usando como referência o preço do mês anterior. Ou seja, o valor de janeiro reflete o desempenho de dezembro do insumo no mundo.

Mas mesmo ciente da fórmula, a consultoria Maxiquim, especializada nos segmentos químico e petroquímico, preferiu não arriscar valor futuro para o insumo. "Não fazemos projeções de cotações, mas os indicadores apontam que o preço da nafta para fevereiro será menor que o valor de R$ 1,180 mil de janeiro deste ano", afirma Solange Stumpf, diretora-executiva da Maxiquim. Assumindo que um dólar tem uma cotação média de R$ 2,14 no ano, o insumo, portanto, está sendo vendido no primeiro mês de 2007 a US$ 551 no país.

É justamente este rigor para com o preço da nafta ou mesmo para com a querosene de aviação, que também sofre reajustes mensais, que desperta a curiosidade do economista Adriano Pires. Diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Pires lembra que essa regra de ajuste mensal passa longe de outros derivados, como gasolina, óleo diesel e gás liqüefeito de petróleo (GLP) ou gás de cozinha.

"O preço da gasolina e do diesel não sofrem uma revisão de valores desde setembro de 2005. E o gás de cozinha não teve mexida alguma desde janeiro de 2003", afirma Pires. Sendo assim, hoje, o valor da gasolina no país é de US$ 0,46 por litro, 40% maior que o praticado nos Estados Unidos. Já no diesel, cujo litro está sendo comercializado a US$ 0,54, estima-se que esteja 21% superior que o registrado naquele mercado. Os dados não embutem imposto ou margem de lucro da distribuição.

Para o economista, a postura passa longe de questões inflacionárias, já que o índice tem se mantido sob controle há bastante tempo e não seria uma alteração esporádica que impulsionaria a inflação. Segundo Pires, manter o diesel, a gasolina e o GLP sem aumentos obedece uma lógica política populista.

"Mas como o diesel, a gasolina e o GLP compõem 60% da receita da Petrobras e como a companhia decidiu manter os preços fixos quando o mercado internacional de petróleo estava em alta, logo é natural que agora a empresa também queira recuperar sua receita quando o insumo está baixo", conclui Pires. A BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, informou por meio de sua assessoria de imprensa que não faria comentários.

Entretanto, o petróleo, ao contrário dos últimos dias, mostrou leve recuperação ontem. Na Bolsa Mercantil de Nova York, o tipo WTI para março foi negociada a US$ 52,24, alta de US$ 1,03. Já na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, o Brent também para março foi comercializado a US$ 52,78, acréscimo de US$ 0,52. Mas comparado ao recorde de julho, a queda da commodity atinge 32%.

De acordo com analistas de mercado, o acréscimo de ontem refletiu a previsão de tempo frio para o Nordeste dos Estados Unidos, o que poderá aumentar o consumo por óleo de aquecimento. A previsão é do Serviço Nacional de Clima do país.

A pequena alta, contudo, reforça a projeção de longo prazo de alguns. Lucas Brendler, analista de investimentos da Geração Futuro Corretora, acredita que o produto não vai permanecer neste preço. Isso, porque os estoques mundiais em algum momento precisarão ser refeitos, o consumo de gasolina irá subir no período de férias nos EUA e haverá algum efeito decorrente do corte de produção de 500 mil barris que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) fará a partir de 1º de fevereiro.