Título: Preço baixo faz mercado de carbono patinar
Autor: Bouças, Cibelle e Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2007, Agronegócios, p. B9

O mercado futuro de créditos de carbono demora a deslanchar no Brasil. A queda significativa nos preços - de 20 euros para 4 euros por tonelada - desencorajou as empresas a vender os créditos referentes ao primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto, que se estende até 2008. Segundo a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), faltam vendedores no mercado.

Em setembro de 2005, a BM&F criou o banco de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), mecanismo pelo qual países desenvolvidos, como os europeus, podem investir em projetos limpos nos países em desenvolvimento, como o Brasil, para compensar a poluição que emitem.

A meta da BM&F era iniciar ainda em 2005 um sistema de vendas de contratos de opção a termo e no mercado à vista por meio de leilões eletrônicos. Mas o projeto continua parado. "Quando iniciamos o projeto, os créditos eram negociados no mercado internacional a 20 euros por tonelada. Hoje está em torno de 4 euros . Temos compradores interessados em negociar, mas não há empresa interessada em vender créditos", afirma Álvaro Affonso Mendonça, diretor de produtos financeiros e ambientais da BM&F.

Uma explicação é que países da Europa demandaram menos créditos que o previsto em seus inventários de emissões nacionais, o que ajudou a pressionar os preços. "Alguns países exageraram no montante de emissões [de gases do efeito estufa] em suas previsões", diz Shigueo Watanabe, consultor-sênior da Geoklock, de São Paulo. "Isso trouxe desconforto e levantou suspeita de que eles haviam superestimado as emissões". Alemanha, França e Reino Unido estão entre os que erraram na conta.

Outro fator apontado pela BM&F é a proximidade da definição de novos limites de emissão de gases no ar, que os países deverão adotar entre 2008 e 2012. Paulo Braga, da Maxambiental, fornece uma terceira razão para o atraso da BM&F. "Os compradores são de fora. Por que comercializariam aqui se eles têm a bolsa em Londres?"

Os consultores ouvidos pelo Valor atentam para um outro detalhe. A queda nos preços não se estendeu para os créditos do chamado segundo período de compromissos, pós-2008. Para esses créditos, os preços continuam atraentes, na casa de 18 euros. "A BM&F fala que o mercado está ruim porque ela não conseguiu colocar muitos projetos à sua carteira. Com a perspectiva de a Europa elevar o corte nas emissões para 20% até 2020, o mercado vai explodir".

A BM&F possui dois projetos de MDL validados e cinco intenções de compra. Mendonça diz que a bolsa desenvolveu dois tipos de contratos, com regras específicas para negociar créditos gerados pelo setor privado e público - estes precisam atender à lei de licitações e contratos públicos (nº 8.666/93). "Os governos não conseguem negociar créditos no mercado de balcão porque a venda direta não atende à lei de licitações", diz ele. A expectativa é atrair esses projetos e aumentar o volume de ofertas.

A previsão da bolsa é lançar neste semestre um sistema de leilões globais, via internet, para negociação à vista de créditos. Neste ano, a BM&F também desenvolverá, com financiamento de US$ 900 mil do Banco Mundial, um programa para estimular o desenvolvimento de novos projetos de geração de créditos de carbono no país.