Título: Governo impõe prazo para candidatura única à Câmara
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2007, Política, p. A6

Depois de quase três meses de afastamento da presidência do PT, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) reassumiu ontem o cargo, defendendo a coesão da base governista em torno de uma candidatura única a presidente da Câmara dos Deputados. Os dois governistas que disputam o posto - deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP), atual presidente da Casa, e Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo - compareceram ao almoço que marcou o retorno de Berzoini ao comando partidário. Aldo e Arlindo não mostraram disposição de recuo.

O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) chegou a fixar data para o entendimento: até 20 de janeiro. Ex-presidente do PT, Genro afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou a aliados e a ele, como seu coordenador político, que tentasse um "ajuste" da base para que não houvesse disputa.

Chinaglia refutou as informações de que Lula estaria trabalhando pela candidatura de Aldo. E foi além: lembrou que o país não vive mais em uma ditadura e que o presidente da República não pode interferir no processo eleitoral de outro poder.

"O presidente Lula sabe que ali é outro poder... Na ditadura, quando o general que era presidente de plantão tentava interferir na Presidência da Câmara, normalmente a imprensa e o parlamento reagiam. O que mudou é que agora não é mais ditadura. E aqueles que, de forma desatenta, escrevem que o presidente vai apoiar este ou aquele candidato, talvez devessem refletir sobre qual é o papel que o presidente da República deve jogar numa democracia", disse.

Berzoini era coordenador da campanha de Lula à reeleição quando foi afastado da presidência do PT, em 6 de outubro, por causa do episódio da tentativa de compra de um dossiê antitucano por um grupo de petistas. O ministro Marco Aurélio Garcia ocupou a presidência do PT durante o período de afastamento e devolveu o cargo ressaltando que Berzoini foi inocentado pelo inquérito policial.

Num discurso informal, Garcia disse que o PT está pacificado e agradeceu o apoio que recebeu de todas as correntes políticas do partido. Ele provocou gargalhadas dos petistas ao fazer ironia com o discurso de posse do governador de São Paulo, José Serra. "Acho lamentável que o chefe do cerimonial desse governo de São Paulo tenha puxado da gaveta um discurso de oito anos e tenha obrigado o governador a lê-lo", disse. Como Serra falou de "crise moral e recessão", Garcia acha que o tucano estava citando "coisas de oito anos atrás".

O ministro também defendeu a candidatura única para a presidência da Câmara. Segundo ele, o lançamento de Chinaglia não significava crítica ou restrição a Aldo, a quem elogiou. " Ele realizou um extraordinário trabalho". As candidaturas de Aldo e Arlindo não são antagônicas. Haverá mecanismos pelos quais uma delas será uma candidatura única da coalizão que nós temos", disse Garcia.

Falando aos petistas que lotavam um restaurante de Brasília que é tradicional reduto petista, o ministro defendeu esforço do PT para o sucesso do governo de coalizão. "Não podemos governar este país sozinho. Nem mesmo poderemos governar apenas com aqueles partidos com os quais temos mais afinidade no campo da esquerda. Os desafios que estamos tratando são muito maiores. Gigantescos", disse.

Berzoini respondeu com um discurso no mesmo tom. Pregou a coesão e a unidade do partido e colaboração com a coalizão governamental. Ele defendeu a candidatura de Chinaglia, afirmando se tratar de "um nome para valer, para concorrer". Mas ressaltou a intenção de construir a coesão da base.

"A relação do PT com o PCdoB sempre foi uma relação de divergências eventuais, mas de muitas convergências. Não há problema para um diálogo de alto nível entre os dois partidos. Vamos tentar uma candidatura comum. Vamos trabalhar com o que for possível", afirmou. Berzoini disse que se sentia "confortável" e sem constrangimentos na volta ao cargo.