Título: Violência diminui nas capitais, mas cresce no interior
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Fonte: Valor Econômico, 28/02/2007, Política, p. A8

O ritmo de crescimento da violência no Brasil está em queda nas capitais e regiões metropolitanas, mas aumenta principalmente no interior do país. As maiores vítimas dos homicídios são jovens, e entre eles, os mais atingidos são os negros.

Entre 84 países, o Brasil aparece como o quarto mais violento, atrás apenas de Colômbia, Rússia e Venezuela. A média de homicídios de 2004 (27 em 100 mil habitantes) chega a ser até 40 vezes maior do que em países como Inglaterra, França, Alemanha, Áustria, Japão e Egito.

As conclusões fazem parte do livro "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros", publicado pela Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI) e elaborado com base nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

Especialistas atribuem essa interiorização da violência ao surgimento de novos pólos de crescimento econômico e à falta de ações de segurança do governo nas cidades mais distantes. "São municípios onde o setor público atua pouco, são terra de ninguém", diz o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, pesquisador da OEI.

Os números divulgados pelo estudo referem-se a 2004. As mortes por homicídio no país estão concentrados em 556 cidades, que representam cerca de 10% dos municípios. Quase 72% dos homicídios ocorrem nessas cidades. Em 2004, dos 48.345 homicídios verificados no país, 34.712 foram registrados nesse grupo de municípios. Waiselfisz acredita que o total de homicídios no Brasil seja 15% maior que o oficial, devido à subnotificação. Nesses casos, diz ele, as vítimas são enterradas em cemitérios clandestinos ou abandonadas.

O estudo revela que das dez cidades com maiores taxas de mortalidade por homicídio, seis estão localizados no Centro-Oeste. Algumas delas são de pequeno porte, o que contraria a tendência histórica de concentração de mortes violentas nos grandes centros urbanos. "São cidades com enormes conflitos pela terra, com os índios, com o desmatamento e a apropriação ilegal de áreas", diz Waiselfisz, para quem a violência no país chegou "a limites insuportáveis".´

A cidade que, proporcionalmente, tem a maior taxa de assassinatos do país está localizada em Mato Grosso. Em Colniza, que tem apenas 12, 4 mil habitantes, foram registradas mais de 165 mortes para cada 100 mil habitantes em 2004, resultado bem acima da média brasileira.

Juruena, também em Mato Grosso, com 6,2 mil habitantes, vem em segundo lugar, com taxa de quase 138 mortes. Em terceiro está Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, com mais de 116 mortes para cada 100 mil habitantes. Todas têm índices bem maiores do que o a cidade de São Paulo, onde a taxa é de 48 mortes para cada 100 mil habitantes.

Os problemas ficam ainda mais evidentes quando o foco da pesquisa é a violência contra os jovens - 10% dos municípios brasileiros concentram quase 82% dos assassinatos de pessoas entre 15 e 24 anos. Foz do Iguaçu, no Paraná, é a cidade com maior número de mortes juvenis: mais de 223 para cada 100 mil habitantes. Serra, no Espírito Santo, aparece em segundo lugar, com quase 223 mortes juvenis para cada 100 mil habitantes. Recife está em terceiro lugar, com 208 mortes.

No grupo das cidades mais violentas estão incluídas 20 capitais e o Distrito Federal. Depois de Recife, aparecem com as maiores taxas de homicídios Vitória (ES), Maceió (AL), Porto Velho (RO), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG). A cidade de São Paulo aparece em 182º lugar no ranking da OEI. As demais seis capitais - Florianópolis (SC), Salvador (BA), Natal (RN), Teresina (PI), São Luis (MA) e Manaus (AM) - ficaram fora da relação das 556 cidades mais violentas.

Em 2004, os Estados com maior taxa de homicídios por habitante eram Pernambuco, Espírito Santo e Rio de Janeiro, com taxa em torno de 50 homicídios a cada 100 mil habitantes. Aparecem a seguir no ranking Rondônia, Distrito Federal, Alagoas, Mato Grosso e Amapá.

Na outra ponta da tabela estão Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte e Santa Catarina, com taxa em torno de 11 ou 12 homicídios, quase 5 vezes menos que os Estados mais violentos.

O trabalho também faz um levantamento sobre as mortes em acidentes de trânsito. Entre 1994 e 2004, houve um aumento de 20,8%. A faixa etária mais atingida é a que vai dos 20 anos aos 30 anos. Assim como nos homicídios, os homens são as principais vítimas nesse tipo de acidentes. (Com agências noticiosas)