Título: Bancada do PMDB na Câmara desiste da Saúde e espera outra Pasta no governo
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2007, Política, p. A9

Ao pressionar a bancada do PMDB para aceitar a indicação de José Gomes Temporão para representá-los como ministro da Saúde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um novo problema. No fim da tarde de ontem, o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, e o líder da bancada do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), estiveram com o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Informaram ao governo que a bancada não se sentia contemplada com a nomeação de um nome técnico e abria mão do Ministério da Saúde.

Com o movimento, Lula ficará livre para nomear Temporão para a Pasta - seu desejo desde o início dos debates sobre a reforma ministerial. Mas terá de encontrar uma outra Pasta à altura da Saúde para contemplar a bancada do PMDB da Câmara, recém-incorporada à base do governo. Esse grupo pemedebista quer ter dois lugares de destaque na Esplanada. Já contava como certa a Saúde e a Integração Nacional, para onde poderá indicar o deputado Geddel Vieira Lima (BA).

Hoje, apenas o PMDB que apoiava Lula no primeiro mandato tem espaço na Esplanada: é o grupo do Senado, que indicou os ministros das Minas e Energia e Comunicações. O movimento da bancada da Câmara é resposta à forte pressão que o presidente vinha fazendo para que os deputados pemedebistas aceitassem Temporão como indicação deles. O técnico é secretário de Atenção à Saúde do Ministério e é filiado ao partido há poucos meses. É uma indicação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), adversário de Temer dentro das disputas internas da legenda.

A pressão de Lula ficou mais forte na noite de segunda-feira. Tarso Genro avisou Temer de que Temporão era o preferido de Lula. Se o nome fosse aceito, teria na Pasta da Saúde um homem de sua confiança. O Palácio do Planalto ainda não confia totalmente na ala do partido recém-chegada ao governo e, com Temporão, não ficaria refém desse grupo. "Eu disse a ele (Temer) de maneira bem clara que o Temporão tem o apoio do movimento sindical do setor e do ex-ministro (Adib) Jatene. É o nome do presidente Lula", disse Tarso, na manhã de ontem, antes de saber da decisão do PMDB de abrir mão da Saúde.

Ao citar os sindicatos e o ex-ministro Jatene, Tarso tentava descolar o nome de Temporão de Sérgio Cabral. O carimbo de indicado do governador pesava sobre o preferido de Lula em função das disputas internas da legenda. No dia 11 de março, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim desafiará a presidência de Temer na convenção nacional do partido. O ex-magistrado tem o apoio de Cabral.

Na base aliada, já se fala que Lula deixará para escolher o novo ministério depois da eleição interna do PMDB, para descontentamento de Temer e seu grupo, que gostaria de garantir duas indicações imediatamente e manter espaço na Esplanada independentemente do resultado da eleição interna. Se Jobim vencer, Lula considera que terá um aliado na chefia formal da legenda. Seria mais simples nomear Temporão e colocar outro pemedebista de confiança na Esplanada.