Título: Volatilidade representa um "alerta", diz Meirelles
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2007, Finanças, p. C3

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem em depoimento no Senado que a volatilidade provocada nos mercado pela China pode servir de alerta tanto para a política monetária quanto para investidores que apostam na valorização do câmbio.

"Talvez o que esteja acontecendo nas últimas horas seja um aviso para agirmos com prudência, como mais parcimônia", disse Meirelles, respondendo a questionamentos sobre o ritmo de corte de juros. "Não sabemos se o aumento à aversão ao risco será um evento prolongado. É um aviso. Não podemos fazer política (monetária) com base em acontecimentos transitórios."

Meirelles voltou a se referir à volatilidade nos mercados em outro momento do depoimento - dessa vez, enviou um recado para quem monta posições que apostam na valorização contínua da taxa de câmbio.

"Os fenômenos que estão acontecendo no mercado internacional são uma boa lembrança de que as taxas podem se mover nas duas direções", disse Meirelles. "Essas apostas (na valorização do câmbio) podem estar erradas e dar prejuízo. As pessoas apostam, mas as pessoas perdem também."

Enquanto os mercados desabavam, sete dos oito membros da diretoria colegiada do BC depunham no Senado (a única ausência era o diretor de Fiscalização, Paulo Sérgio Cavalheiro, que estava em viagem ao exterior).

Na saída do depoimento, Meirelles procurou reduzir a importância das declarações que fizera aos senadores sobre como as turbulências internacionais exigem uma dose maior de cautela na política monetária.

Segundo ele, a mensagem principal que havia transmitido é que os movimentos da taxa de câmbio não acontecem em uma só direção. "Também procurei dizer que não sabia como iria terminar o dia, se esses fenômenos são transitórios."

Questionado se as turbulências seriam levadas em consideração na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC que ocorre na semana que vem, disse que sim. "Mas o BC não vai pegar apenas um ou outro fato para tomar sua decisão", afirmou. "Será analisado um conjunto de informações."

Segundo Meirelles, as primeiras informações dão conta de a China poderia reagir ao que seria um superaquecimento de sua economia. "Pode ou não estar superaquecida", afirmou o presidente do BC. "Essa é uma questão que vai ficar clara apenas nos próximos meses ou anos".

Durante o depoimento, Meirelles disse não saber qual é a tendência da taxa se câmbio - se iria continuar a se apreciar ou se pode mudar de rumo, com a volatilidade nos mercados. "A taxa de câmbio existe para fazer os BCs exercitarem a sua humildade", afirmou. "É uma tarefa inglória projetar o que vai acontecer com o cambio. Há alguns anos, ninguém poderia imaginar, por exemplo, que teríamos a cotação do real onde está e um saldo comercial de US$ 45 bilhões."

Durante o depoimento, quando a política monetária do BC estava sendo atacada pelo PT, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) disse que a estratégia criava riscos para economia em um momento de queda em Bolsas em todo o mundo. "Não é hora de brincar", afirmou.