Título: Déficit comercial dos EUA é recorde e pressiona o dólar
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2005, Internacional, p. A7

O déficit comercial dos EUA chegou a US$ 60,3 bilhões em novembro, o maior volume mensal já registrado. O resultado foi influenciado pela demanda por petróleo e bens de consumo, que puxaram as importações para um patamar também recorde. Também ontem foi divulgado o resultado do déficit fiscal dos EUA, que registrou queda em dezembro em relação ao mesmo período de 2003. O desequilíbrio comercial dos EUA reforçou ontem a pressão sobre o dólar, que caiu em relação a outras moedas, e está levando vários economistas de peso nos EUA a reduzirem suas projeções de crescimento econômico do país. O buraco nas contas de comércio exterior cresceu 7,7% se comparado com os US$ 56 bilhões registrados em outubro, que já constituíam um valor recorde. O déficit comercial com a China - fonte de constante preocupação do governo e de setores industriais dos EUA - representou mais de um terço do total e permaneceu próximo ao recorde alcançado no mês anterior, de US$ 16,6 bilhões.

O déficit de US$ 561,3 bilhões totalizado até novembro ultrapassa a soma recorde alcançada no ano de 2003 como um todo. A recuperação dos gastos com consumo no segundo semestre de 2004 elevou a demanda americana por produtos importados. Já a maior lentidão do crescimento do Japão e da Europa em relação aos EUA pode ter restringido a demanda por produtos americanos, disseram economistas. "A economia americana mantém-se sólida, por isso a demanda por produtos importados continua forte", disse Michael Moran, economista-chefe da Daiwa Securities America, de Nova York. "A desvalorização do dólar em relação ao euro ajuda mas não é suficiente para reduzir significativamente as importações." O déficit da balança comercial pesará negativamente nas estimativas para o PIB dos EUA do Departamento de Comércio. O banco JP Morgan disse que o déficit deverá reduzir o crescimento no quarto trimestre de 4% para 3,5%. Ian Morris, economista do HSBC, avalia que o estrago poderia ser ainda maior e reduziu o crescimento anualizado para 3%. "Tudo deu errado nesse relatório", diz Morris. "O déficit maior pode representar mais dificuldades em atrair capital, o que leva a mais depreciação do dólar e a um aumento nas taxas de juros. Isso além do prejuízo ao crescimento do PIB." Após o anúncio do déficit comercial dos EUA, a moeda americana perdeu quase dois centavos de dólar em relação ao euro, fechando em US$ 1,329. Muitos analistas esperavam que a queda do dólar começaria a ajudar a diminuir o déficit, ao aumentar a competitividade dos produtos americanos, mas o resultado divulgado ontem jogou um balde de água fria nesses expectativas. Para Nigel Gault, da Global Insight, "o maior choque foi que as exportações tiveram mal desempenho". As importações cresceram 1,3% no mês de novembro, totalizando US$ 155,8 bilhões. As exportações caíram 2,3%, em sua primeira retração desde junho, e alcançaram US$ 95,6 bilhões. As exportações haviam atingido um recorde de US$ 97,8 bilhões em outubro. O valor das importações de petróleo subiu em novembro para o recorde de US$ 13,4 bilhões, a partir do total anterior de US$ 13,2 bilhões. Os EUA importaram 326,5 milhões de barris do combustível em novembro, comparativamente aos 315,8 milhões de outubro, quando o preço do contrato futuro disparou para seu nível recorde. O preço médio do petróleo importado caiu de US$ 41,79 o barril para US$ 41,15 o barril com base no mesmo comparativo mensal. As importações de produtos de consumo cresceram 1,1%, para o total recorde de US$ 32,4 bilhões. As importações de automóveis e autopeças caíram 2,3%, para US$ 19 bilhões, em novembro. Já o déficit fiscal de dezembro, divulgado também ontem, caiu para US$ 3,4 bilhões, informou o Departamento do Tesouro americano. No mesmo período do ano passado, o déficit fiscal do país tinha sido de US$ 17,6 bilhões. Previsão do Congresso americano, feita em setembro, aponta para uma redução do buraco nas contas orçamentárias americanas para US$ 348 bilhões no atual ano fiscal (iniciado em 1º de outubro), o que representaria uma queda significativa se comparado com os US$ 412,3 bilhões do ano fiscal anterior.