Título: Petrobras recompõe perdas com estaleiros
Autor: Góes, Francisco e Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2007, Empresas, p. B14

A valorização do real frente ao dólar está aumentando o custo de construção de plataformas da Petrobras no Brasil. Nos projetos das plataformas P-51 e P-52, que serão entregues este ano, a estatal gastou R$ 200 milhões a mais para recompor o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, afetados pela variação cambial. O repasse, acertado com o consórcio FSTP, responsável pela montagem das plataformas, foi de cerca R$ 80 milhões para a P-51 e de R$ 120 milhões para a P-52. Outros projetos como a P-54, ainda em construção, também tiveram recomposições cambiais.

O diretor da área de serviços da Petrobras, Renato Duque, diz que aditivos deste tipo são comuns. "Os contratos têm cláusulas que permitem, uma vez verificado o desequilíbrio, reequilibrá-lo", disse Duque. Fontes da indústria argumentam que o problema é que os estaleiros vêem recebendo as recomposições cambiais e não repassam parte destes valores para os fornecedores da indústria brasileira que também foram afetados pela valorização do real. Essa variação cambial faz com que o produto nacional seja mais caro em dólar.

Duque diz que não chegou ao conhecimento da Petrobras reclamação por parte de empresas ou entidades de classe sobre o assunto. Mas avalia que as empresas que se sentirem prejudicadas devem acionar os contratantes. O diretor de uma empresa consultada pelo Valor disse que fechou contrato a R$ 3 por dólar em um subcontrato da P-52 e, quando terminou o serviço, o dólar estava a R$ 2,20. "Tivemos perda e não fomos compensados", disse o executivo.

Uma fonte da indústria afirmou que cerca de 40% dos R$ 120 milhões repassados pela Petrobras para o consórcio FSTP na P-52 teriam sido incorporados como "lucro extraordinário". O consórcio é formado pela Keppel Fels, dona do estaleiro Brasfels, de Angra dos Reis (RJ), onde estão em construção a P-51 e a P-52, e pela Technip. A parcela restante dos recursos teria sido usada no pagamento de salários no estaleiro e incorporada pela própria Technip.

Procurada, a Keppel Fels, que tem 75% do FSTP, disse, por meio da assessoria de imprensa, que não fala sobre o assunto. A P-52, que custará cerca de US$ 928 milhões, tem previsão de início de operação em abril. Já a P-51, de US$ 809 milhões, será entregue no fim do ano. As duas unidades vão operar na Bacia de Campos.

O Valor apurou que fornecedores com contratos em reais não foram afetados e que algumas empresas receberam recomposição cambial. Foi o caso da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), que construiu o casco da plataforma P-51. Jaime Cardoso, presidente da Nuclep, disse que a empresa, ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, recebeu compensação cambial de R$ 7,2 milhões.

Outro fornecedor nacional afirmou que tentará recompor perdas cambiais no fornecimento de bens para a plataforma P-54, contratada junto à Jurong Shipyard, de Cingapura, e hoje em obras no estaleiro Mauá Jurong, de Niterói (RJ). O executivo disse que vários fornecedores tentaram e não conseguiram recompor perdas cambiais junto à Jurong.

A tentativa de fornecedores de recompor margens perdidas em projetos como o da P-51 e P-52 teria contribuido para os altos preços oferecidos este ano para a construção de duas novas plataformas: a P-55 e a P-57. Em janeiro, a Petrobras cancelou a licitação da P-55 depois que o consórcio JV P-55 ofereceu preço global de US$ 1,65 bilhão para construí-la. Antes a estatal já havia cancelado o projeto da P-57, projeto em que o consórcio Atlântico Sul ofereceu US$ 1,77 bilhão.

A alta no preço do aço também influenciou os altos preços das duas plataformas, assim como a própria variação do real frente ao dólar. Em média, o custo dos equipamentos da P-55 e da P-57 subiram 80% em relação aos mesmos equipamentos da P-51 e P-52. O diretor de serviços da Petrobras disse que vai apresentar na reunião de diretoria da empresa, amanhã, proposta de refazer a engenharia dos projetos da P-55 e da P-57.