Título: Boa demanda européia revigora exportadores de carne de frango
Autor: Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2007, Agronegócios, p. B24

Bem diferente do cenário do ano passado, quando o temor com a gripe aviária na Europa resultou em redução do abate de aves nas agroindústrias brasileiras, 2007 começa com forte demanda internacional por carne de frango. E foram justamente os europeus que voltaram a comprar com mais intensidade do Brasil. A maior demanda ocorre não apenas porque o consumidor está mais informado sobre a doença, mas também por conta dos recentes registros de focos de gripe aviaria em outros países fornecedores, sobretudo da Ásia. O cenário mais otimista já se reflete na adoção de terceiros turnos em algumas unidades, em investimentos em novas plantas de abate na região Sul e em contratações.

"Neste início de ano, houve uma virada no mercado que nem podíamos imaginar. Há forte demanda internacional, a produção está acelerada em todas as indústrias e o preço está em alta nos mercados interno e externo", afirma Roberto Kaefer, presidente da Globoaves. Segundo ele, o cenário é bem diferente de 2006, quando a empresa "jogou matrizes fora". Hoje, diz, "há procura por pintinhos de um dia que não estamos conseguindo atender". Um dos principais setores de atuação da empresa é o fornecimento de pintos de um dia para engorda nas granjas que fornecem frangos às agroindústrias.

Embora no total de janeiro, segundo dados da Abef - entidade que reúne exportadores -, a indústria de frangos tenha exportado 2,19% menos do que em janeiro de 2006, a compra dos europeus subiu significativamente, 31,52%. Para atender a esse aumento da demanda internacional, a Sadia prepara para até agosto um terceiro turno em sua fábrica de Concórdia, com contratação de 120 pessoas e investimentos da ordem de R$ 50 milhões na unidade. Já a Seara, controlada pela americana Cargill ,iniciou nos últimos dias o terceiro turno na cidade de Seara, onde outras 120 pessoas já foram contratadas.

Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação do Rio Grande do Sul, Darci Rocha, empresas como a Avipal, no Rio Grande do Sul, que ainda não retomaram o terceiro turno, estão ampliando o número de horas extras, depois de terem recontratado boa parte dos demitidos. "Os trabalhadores estão sendo chamados para trabalhar aos fins de semana desde o fim do ano", reforça Marcelino da Rosa, do sindicato dos trabalhadores da região de Montenegro (RS), onde estão plantas de outra grande empresa do ramo, a Doux Frangosul. Segundo ele, a companhia pediu aval para a matriz francesa para em 60 dias iniciar o terceiro turno na unidade de aves. A Frangosul não se pronunciou.

"O mercado se abriu para o Brasil, país que não apresentou a gripe aviária", afirma Ronaldo Müller, diretor regional de produção da Sadia para Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Müller, no entanto, pondera que é necessário cautela, porque no início do ano passado também havia otimismo e o mercado foi surpreendido pela queda de consumo na Europa e acabou com um estoque alto de produção e preço do quilo do frango ao produtor abaixo de R$ 1. "Temos ainda uma lição de casa importante para fazer. Não estamos livre da doença. Não se pode desenhar um cenário muito cor-de-rosa", afirma ele.

Conforme Flávio Médici, diretor comercial da Macedo, os consumidores europeus estão mais acostumados com os noticiários sobre a doença e entendem melhor o assunto, por isso voltaram a consumir. A Macedo, que teve queda de 40% da produção no ano passado, já recuperou metade da queda. "Há uma sensível melhora no mercado. Neste ano devemos recuperar a margem de lucro", diz.

A situação contrasta com o período ruim, vivido no primeiro semestre de 2006 (a partir de março), quando as indústrias brasileiras de aves demitiram, deram férias coletivas e reduziram a produção. A Seara, por exemplo, demitiu cerca de 300 pessoas em Santa Catarina; a Avipal fechou turno no Rio Grande do Sul, granjas de todas as indústrias tiveram aumento do tempo de vazio sanitário e boa parte do segmento deu férias coletivas, como ocorreu com Perdigão, Avipal e Coopercentral Aurora.

O atual otimismo, em alguns casos, tem levado ao aumento de capacidade. A Coopercentral Aurora tirou da gaveta projetos de investimentos que envolvem a área avícola, como a construção de uma nova unidade de abates em Maravilha, no oeste catarinense, para ampliar em 30% sua produção de frangos. Já a Globoaves está investindo na compra de pequenos frigoríficos em São Paulo e Espírito Santo.

Apesar da melhora na demanda, entretanto, existem dois fatores que podem impedir, de acordo com os empresários, um aumento de rentabilidade. São os casos da alta do preço do milho no mercado mundial e a maior valorização do real em relação ao dólar. Entre os dois, o milho preocupa menos por conta da forte produção nacional do grão.