Título: Indicação de Nogueira Batista ao FMI ignorou Meirelles
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Finanças, p. C12

A indicação de Paulo Nogueira Batista Jr. para o cargo de representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI) foi mais uma vitória do grupo desenvolvimentista dentro do governo. A escolha, feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com a bênção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acentua as diferenças de opinião sobre a política econômica, uma vez que Nogueira Batista é um crítico implacável de pelo menos dois aspectos centrais dessa política - a administração da taxa de juros e a gestão do câmbio conduzidas pelo Banco Central (BC).

Principal representante do grupo ortodoxo no governo, o presidente do BC, Henrique Meirelles, é o vice-governador do Brasil no FMI e no Banco Mundial (Bird), mas não foi consultado sobre a indicação de Nogueira Batista. Além de participar das reuniões anuais das duas instituições, Meirelles substitui o governador (cargo pertencente ao ministro da Fazenda) em caso de ausência.

De perfil heterodoxo, o futuro representante do país no FMI - ele assumirá o cargo em abril, após a reunião de primavera da instituição, em Washington. Substituirá um economista ortodoxo e ligado a Meirelles, Eduardo Loyo, que, alegando razões de caráter pessoal, pediu demissão do cargo há alguns dias. Antes de ir para o FMI, Loyo foi diretor de Estudos Especiais do Banco Central, a convite de Meirelles. Seu substituto é, no debate econômico brasileiro, um dos principais críticos da atuação do BC.

Nogueira Batista, segundo informou ao Valor um assessor direto do presidente Lula, vinha sendo cotado, há pelo menos seis meses, a ocupar algum cargo na área econômica do governo. Professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas, ele é um velho conhecido do presidente Lula. Nos anos 90, integrou o grupo de economistas que, uma vez por mês, se reunia no Instituto da Cidadania, organização não-governamental então presidida por Lula e ligada ao PT, para debater temas econômicos.

Além de Nogueira Batista, faziam parte do grupo, que era secretariado por Guido Mantega, os economistas Paul Singer, Maria da Conceição Tavares, Aloízio Mercadante, Eduardo Suplicy, entre outros. "O presidente conhece bem o Paulo, cujo nome vinha sendo ventilado no Palácio do Planalto, para algum cargo no governo, há cerca de seis meses", revelou um assessor de Lula.

Inicialmente, o ministro Guido Mantega teria sondado Nogueira Batista para assumir um posto no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas o economista declinou da oferta, demonstrando interesse em trabalhar no FMI. A oportunidade surgiu depois que Loyo, reconduzido há apenas quatro meses para mais um mandato de dois anos como representante do Brasil no Fundo, decidiu deixar o cargo.

O primeiro teste de Nogueira Batista como representante do Brasil no FMI acontecerá em outubro, quando os 24 diretores executivos da instituição analisarão, em profundidade, todos os aspectos da política econômica brasileira. Trata-se de uma rotina do Fundo, prevista no Artigo IV de seu estatuto. Nessas ocasiões, os diretores do FMI opinam sobre os rumos da economia e o representante brasileiro é escalado para rebater críticas e defender a política econômica. Nogueira Batista terá que defender aspectos da política econômica que sempre criticou. "Ninguém vem aqui para dar opiniões pessoais, mas para representar as opiniões de seu país", disse ao Valor um integrante do "staff" do FMI.

A indicação de Nogueira Batista ocorre no momento em que o PT, com o apoio velado de alguns ministros do governo, pressiona o presidente Lula a promover mudanças na diretoria do Banco Central, com a intenção de acelerar o ritmo de redução da taxa básica de juros (Selic). Acontece também no momento em que o ministro Mantega, ele também um crítico da política monetária, decidiu adotar um tom conciliatório na relação com Meirelles, depois de constatar que o presidente decidiu mantê-lo no cargo.