Título: Festa vazia reúne beneficiados por programas federais
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2007, Caderno Especial Posse, p. A3
Lula chega ao Congresso Nacional, recepcionado por um pequeno número de simpatizantes e militantes do PT As enormes extensões de gramado vazias, na Esplanada dos Ministérios, ontem, enquanto transitava em direção ao Palácio do Planalto o Rolls Royce com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a mulher, Marisa, deram um colorido verde ao enorme contraste entre a esvaziada festa da posse realizada ontem, e a "festa do povo", que cobriu a mesma esplanada dos ministérios de entusiasmo vermelho, com 150 mil pessoas em 2003. No momento mais agitado, em um intervalo na chuva, cerca de 10 mil pessoas acompanharam a celebração de Lula.
O resultado da cerimônia ficou aquém das previsões do próprio PT, que esperava pelo menos 50 mil pessoas em Brasília. O resultado foi atribuído pelo partido chuva que caiu na capital, desde a madrugada. Mas a posse de ontem também não viu a euforia esperançosa dos simpatizantes petistas presentes em 2003, que deu lugar a uma platéia composta por fãs aguerridos do presidente-operário, entusiasmados com seus programas sociais, mas críticos ao desempenho do primeiro mandato.
Novos fãs do presidente, somados à presença tradicional de militantes e sindicalistas, compuseram o público que desafiou o mau tempo da tarde de ontem. Uma das presenças espontâneas à cerimônia foi o estudante Felipe Ferreira Silva, 19 anos, que enfrentou doze horas de ônibus para participar da posse, em Brasília, motivado pelas lideranças locais do PT de Contagem (MG). "Eu vinha até debaixo de chuva", afirmou.
Abrigado no pavilhão de exposições da Granja do Torto, em Brasília, cedido para o acampamento de militantes, Felipe disse receber uma bolsa de R$ 120, no projeto Juventude Cidadã, do Ministério do Trabalho. Ele cursa um módulo profissionalizante de empreendedorismo em sua cidade e tem aulas de inclusão digital. Em sua opinião, o segundo mandato será melhor, mas ainda faltam políticas para a juventude. "Adoro o Lula, mas tinha que ter mais emprego, mais oportunidade para os jovens", afirmou. O entusiasmo de Felipe não combinava, porém, com a lotação do ônibus que o levou à capital. Fretado por R$ 2 mil pelo PT, apenas 19 dos 50 assentos estavam ocupados.
Um dos colegas de acampamento de Felipe, o estudante de Direito em Mogi das Cruzes, Carlos Alberto Duarte, também . Segundo ele, é "indispensável" que o segundo mandato de Lula seja mais ousado e defenda um projeto nacional para a juventude. "As coisas não estão muito boas, mas vim por tietagem ao Lula, e valeu à pena", afirmava ao embarcar para a festa da posse.
Depois de nove horas de viagem, a auxiliar de escritório Ijaciara Arruda, 22, chegou a Brasília com duas tias só para ver a posse. Apesar de receber R$ 340, veio em um ônibus de linha, pago do próprio bolso. Votou em lula em 2002 e 2006, e diz que a vida melhorou porque arrumou emprego, mas espera um salário mínimo maior. Sua tia Mônica Letícia Souza da Silva, 31, técnica em enfermagem em Riachão das Neves (BA) também votou em Lula, e sonha estudar enfermagem em uma universidade particular, usando o Prouni. Espera melhorias na saúde, educação, transporte e segurança.
Irmã de Mônica Letícia, a cabeileireira Volga Souza da Silva, acompanhou as parentes. Votou Lula em 2002, mas em Geraldo Alckmin no 1 turno. No segundo turno, votou em Lula, pois achou o comportamento de Alckmin na campanha "muito agressivo".
Diretamente beneficiada pelo presidente Lula, a "mata mosquitos" Talita Carneiro Maia, 28 anos, veio em ônibus fretado por colegas do Fundo Nacional de Saúde (Funasa), desde o Rio de Janeiro. A mata mosquito, que recebe R$ 1,2 mil, foi com os colegas agradecer a Lula pela reintegração ao emprego, desativado no governo Fernando Henrique Cardoso. No RJ foram 5 mil pessoas reempregadas.
O evento passou quase ileso a protestos contra a corrupção, apesar dos escândalos que marcaram o primeiro mandato. O único caso resultou em um empurra-empurra na Praça dos Três Poderes, provocado por duas mulheres que carregavam uma faixa com a frase "Seria cômico se não fosse trágico", em protesto à corrupção.